Alex e Miles Kane em entrevista concedida à revista The Rolling Stone estadunidense.

Alex Turner está terminando seu segundo martini num bar abafado de Manhattan, quando ele começa a rememorar sobre suas primeiras visitas a New York, uma década atrás. O cantor-guitarrista britânico tinha 20 quando sua banda Arctic Monkeys se apresentou no Saturday Night Live e fez um show muito comentado no Bowery Ballroom. “David Bowie venho ao palco”, ele disse em seu sotaque denso de Yorkshire. “Nós não sabíamos o que dizer a ele, sabe. Nós estávamos apenas esgotados. Foi como a merda de um trem desgovernado aqueles dias.”

Na época, os Monkeys tinham acabado de atingir o topo dos charts do U.K. com álbum de estreia que se tornou o LP mais rapidamente vendido na história britânica. Mas Turner, que acabou de se tornar 30, teve problemas de se adaptar a fama e não estava feliz com o sucessor da banda de 2007. Para tomar alguma distância de seu plateia principal, ele se uniu ao liverpurdiano Miles Kane, do The Little Flames, amigo de tour dos Monkeys. Eles formaram o The Last Shadow Puppets, um projeto ambicioso que expandia o som garage dos Monkeys, combinando doop-woop¹, música de filme faroeste spaghetti e grande orquestrações por cortesia de Owen Pallett, do Arcade Fire. “Estávamos muito conscientes de que estávamos fazendo um disco que nós não devíamos estar fazendo,” diz Turner do Puppets do debut de 2008. “Este é um tipo de ideia de arrogância e sofisticação. Nós tocaríamos lugares com tetos de ouro e merda.”

O álbum tornou-se um favorito cult e foi nomeado ao Mercury Prize da Inglaterra. Turner e Miles também se tornaram famosos no U.K. como playboys de tabloides, conhecido por namorarem modelos, se vestirem em vestes espalhafatosas e sentarem na primeira fila de eventos de moda. “Os Monkeys costumavam impedir a entrada de todos,” diz Alex. “Não só jornalistas, mas todo mundo. E essa não é a forma correta de ser. Miles ajudou a me abrir.”

Agora, oito anos depois de seu primeiro lançamento, os Shadow Puppets estão retornando com Everything You’ve Come to Expect, que é mais direcionado ao pop setentista de L.A. e o que Turner chama de qualidade “incandescente” de Style Council, de Paul Weller. Eles começaram a trabalhar no álbum quando os Arctic Monkeys entraram em hiato após o LP de 2013, AM. “Os outros caras tinham acabado de ter bebês,” diz Turner. “Nós vamos voltar em algum momento.” Ele e Kane se mudaram de Londres a L.A. e vivem uma vida fácil: “Você acorda, tira a máscara para dormir (de olhos), dá um mergulho de cisne na lagoa cor de abacate. Enxáguo tudo isso, o que nem sempre é fácil,” Turner brinca.

Dois anos atrás, Turner alarmou alguns fãs quando ele tomou o palco do Brit Awards e divagou sobre “a natureza cíclica do universo,” antes de literalmente soltar o microfone. “Um monte de pessoas pensaram que eu tava lesado de drogas,” Turner diz. “Mas eu não estava. Eu só não conseguia fingir ganhar um prêmio que era algo que eu sonhava desde que eu era criança, porque não o era.” Kane diz que momentos como esse refletem a confiança crescente de Turner em sua fama. “Ele adora ser uma estrela e toma isso pelo o que é seu,” Kane diz. “Ele é mais confortável em sua própria pele.” Um dia depois de nossa entrevista, Turner e sua namorada, a modelo Taylor Bagley, cuja ele começou a namorar no ano passado, seriam fotografados se beijando do lado de fora de um hotel de New York. Turner nunca fora daqueles de relacionamentos de longo-prazo, mas este parece diferente. “Sempre foi difícil, com certeza,” ele diz. “Mas agora, eu acho, este é um novo capítulo, um caminho. Estou animado.”

Nota

1 Um estilo de R&B popularizado na década de 50 caracterizada por palavras e sílabas desconexas. Uma evolução do jazz e blues; doop-wop também influenciou diversos grupos importantes de rock’n’roll, que definiram mais tarde as décadas do século XX. 

Fonte: Dos Arquivos da edição da Revista da edição 1259, de 21 de Abril de 2016.