Header

CRÍTICA: Everything You’ve Come To Expect

Review do álbum realizado pelo site. A crítica não abarca toda a opinião da equipe Arctic Monkeys BR.

12063684_573153219518488_4906693641878545603_n

Em 2015, quando sugiram os rumores da possível volta do duo The Last Shadow Puppets, a internet borbulhou de especulações. Diversas fotos com Alex Turner e Miles Kane em constante companhia, juntos em uma casa branca – criando suspeitas do Rancho de La Luna – assim como declarações no twitter de Owen Pallett -responsável pelas sessões de violinos do debut, ajudaram a criar um cenário de ansiedade. The Age of the Understatement, o álbum anterior e de estreia, completava então oito anos desde seu lançamento em 2008 e os entusiastas mais fervorosos aguardavam há muito por um álbum sucessor. Após a confirmação oficial do lançamento de Everything You’ve Come To Expect e do clipe Bad Habits, poucas informações foram sendo reveladas, exceto a de que o “álbum teria elementos do debut, porém seria diferente [em alguns aspectos]”. E é o que se comprova, de fato.

tumblr_o4u0qbdv0M1qcvcl5o2_1280
As cordas novamente abrem o disco, num tom de suspense teatral, à la Ennio Morricone. Everything You’ve Come To Expect trouxe outra vez as cordas de violinos, porém desta vez elas não desempenham um papel principal. Diferente do álbum de estreia, onde os violinos eram presença constante, aqui elas figuram como intensificadores; desta vez, atribuem um ar carregado de dramaticidade e vibe de filmes de terror antigos, como a exemplo da faixa ‘Bad Habits’, onde cria um cenário inclusive raivoso, sobrecarregado pelos gritos guturais de Miles Kane. No entanto, desta vez, em grande parte das faixas, elas trazem um tom misterioso e imersivo, ao contrário do debut onde os violinos tinham um papel mais romântico, remetendo aos anos da velha Hollywood, assim como um tom melancólico. Na faixa-título, ela tece um plano de fundo que reforça introspecção.
Abandonando o ar romântico do álbum anterior, que reverenciava Scott Walker, Everything… embarca num mundo obscuro e obrumboso. Grande partes das letras, trazem temas sombrios e letras que merecem ser revisitadas, como a faixa-título. Em contraposição, há um fator que carece atenção. No decorrer dos anos, a maturidade letrística de Alex cresceu exponencialmente, culminando no ápice lírico Suck it and See (2011); e há canções no álbum onde todo aquele potencial é bem explorado e em outros onde o prazer de criar músicas sem o cunho intrinsecamente lírico parece surgir. Tais letras com linhas desconexas e linha de pensamento desalinhado, faz do álbum ter um ar muito mais descolado, moderno e jovial para dois jovens músicos de trinta anos já não tão jovens assim.

expect650
Dados os pormenores, o álbum soa setentista com um quê moderno. Aviation, que foi a mola propulsora para que o segundo álbum viesse à vida, é a faixa mais parecida com o debut, porém, um pouco mais experimentativa. Lembra em muito as faixas mais frenética do álbum de 2007, no entanto menos elétrica e mais melódica. Miracle Aligner também transporta um pouco da melancolia das canções amorosas e dissabores de seu antecessor, com os vocais carregados de Alex Turner. Dracula Teeth engolfa-se num ambiente soturno; não por acaso, o duo associou Buffy, a Caça Vampiros para a canção. Da faixa-título, que resgata um pouco dos Beatles, com os violinos em seguimento, dão um ar de transe em conjunto com Miles cantando em tom ameno e monótono. The Element Of Surprise traz por meios de devaneios e incertezas uma espécie de flerte. Relações amorosas imperfeitas permeiam durante o álbum.
Bad Habits é uma profusão de imagens, como em flashes de cenas. Há um tom de histeria, um tom de suspense crescente ocasionado pelos violinos; a letra não segue uma linha premeditada, criando um cenário que casa em perfeita sintonia com o instrumental. Sweet Dreams, TN mostra um Alex numa canção dolorida de amor, que nos faz lembrar um pouco o amor obsessivo relatado em Cornerstone, de Humbug (2009). Os vocais de Alex estão excelentes, transbordando a trincada letra digna de Roy Orbison. Uma das melhores canções do álbum.
Used to Be My Girl tem uma pegada meio Four Sticks, do Led Zeppelin, um som enérgico, onde a guitarra tem uma presença marcante. A música tem os vocais de Miles ligeiramente distorcidos e com eco. O eco, aliás, é uma das marcas registradas do álbum, o que ajuda a criar um cenário claustrofóbico. She Does The Woods traz Alex nos vocais e musicalmente soa como uma continuação da faixa anterior. Temos novamente uma das melhores faixas; letra que relata uma relação imperfeita por meios de devaneio.

Les Inrockuptibles 3
Pattern destaca-se também como uma das melhores baladas do álbum. Mais uma vez relatando relações amorosas perturbadas, num estupor e impotência “And I slip and I slide / Like a spider on an icicle”. Quando enfim a última faixa chega The Dream Synopsis, temos uma música melódica cantada por Alex, o que aparentemente parece estabelecer uma pequena tradição nos álbuns dos Puppets, arraigada por Alex nos Arctic Monkeys. Porém, é uma balada agridoce. Alex em entrevista disse que a música veio à vida após pesadelos que ele tivera: “É a minha versão daquela música da Miley Cyrus sobre o sonho que ela teve com seu cachorro.” A faixa é a mais brilhante do álbum, provavelmente. É também a mais instigadora e imaginativa. Com certeza fecha o disco com chave de ouro.
Quando o álbum acaba, a única certeza que temos é de que Everything You’ve Come To Expect foi uma surpresa, que trouxe os sabores do debut junto com novos experimentos e elementos, com letras criativas, menos no sentido deveras romântica e com relações mais modernas e imperfeitas. Se o álbum foi ‘tudo o que você esperava’ fica a critério pessoal, no entanto a espera com certeza valeu a pena. E, inevitavelmente, a ansiedade pelo terceiro disco que encerra a trilogia será grande.

 

COMENTE!