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Big Issue: 7 coisas que aprendemos sobre The Car (através do Alex Turner)

Exclusivo: 7 coisas que aprendemos pelo Alex Turner sobre The Car, novo álbum dos Arctic Monkeys
O que o Alex Turner tem lido? Como ele [álbum] soará? Por que eles o gravaram num antigo convento?A Big Issue vai a Budapeste junto com os Arctic Monkeys enquanto estes se preparam para lançar seu novo LP, The Car.

Eis aqui o que ficamos sabendo.

(Divulgação da banda)

Os Arctic Monkeys lançarão seu deveras aguardado sétimo LP, The Car, em 21 de outubro. As expectativas são altas. Este é um álbum a que as pessoas tem aguardado para ouvir já faz quatro anos.
Mesmo desde Tranquility Base Hotel & Casino – seu álbum de conceito sci-fi exuberante e maduro, que foi uma partida e tanto de seu predecessor arrasa-quarteirões AM, cujo tornara-se o sexto álbum número um da banda em 2018 – os fãs estiveram especulando a respeito do seu sucessor. Seis números um consecutivos. É um recorde e tanto. Felizmente, assim é com The Car, tal como os singles There’d Better Be a Mirrorball e Body Paint demonstram¹.
Os Arctic Monkeys convidaram a Big Issue e o nosso convidado-estrela, Martin Compston – ator de Line of Duty [série Netflix], para juntar-se a eles na estrada, em Budapeste, para uma entrevista global exclusiva para anunciar que The Car em breve chegará.
Tivemos uma visão intimista da banda e fomos possibilitados de aferir o estado da banda mais requintada da nação. Assim que os ingressos foram postos à venda para a gigantesca turnê em estádios ao próximo ano, eis aqui tudo que soubemos – a respeito das novas músicas no The Car, sobre quem e o que inspirou as composições de Alex Turner por esta época atual, e a respeito de onde os Arctic Monkeys almejam ir enquanto banda.

1. The Car é o disco dos Arctic Monkeys com som mais cinemático até então

Este é o veredito de todos que ouviram o álbum até agora (incluindo a Big Issue), de acordo com Turner.
Ele nos contou: “É uma resposta que tive para outras coisas que compuséramos; esta idéia de algo soando ‘cinemático.’ Eu nunca concordei completamente com isso, mas é mais acentuado desta vez.”
“Você atina que todas essas idéias que as pessoas têm de que deveria de ter algum tipo de reflexão visual para esta razão. Eu não necessariamente concordo – ainda é só um disco para mim. Mas se evoca estes tipos de coisas que se faça pensar…”
Quando a nossa entrevista foi originalmente publicada, muitos pinçaram os dizeres de Turner: “É mais acentuado desta vez” e assumiram que era uma referência a música no disco. Não o é. Turner falara a respeito das vozes das pessoas dizendo que a música é cinemática. O arranjo orquestral melancólico e depressivo em There’d Better Be a Mirrorball – a primeira faixa lançada – é refletido ao longo de todo o LP.

2. Alex Turner estivera lendo sobre edição e produção de filmes

Turner é um cinéfilo de longa data e falou em nossa entrevista sobre, potencialmente, um dia dirigir um filme. Ele também estivera mais envolvido que nunca nos vídeos para este novo LP.
Mas, disse-nos, que seu florescente interesse em edição – em encontrar um caminho através do material gravado para produzir o produto final da obra – filtra-se adentro as letras assim como nas músicas.
“Se há imagens na minha cabeça quando componho? Absolutamente. E no passado, eu era até capaz de apontar exatamente o que elas eram com maior facilidade,” disse ele.
“Mas estou tão acostumado em fazer isso que para este disco eu sei o que estava assistindo e ouvindo ou lendo, mas não conseguia traçar tão facilmente uma linha do que isso se tornara no disco.
“Talvez eu tenha traçado uma linha deveras direta para coisas no passado, daí então eu esteja mais relutante em fazê-lo [agora]. Mas é dureza assistir ou ler qualquer coisa e mantê-la à parte do que se está criando. Por exemplo, eu estava lendo um livro chamado Num Piscar de Olhos², de um editor de filmes chamado Walter Murch.
“Ele foi o editor de Apocalypse Now e um punhado de outras coisas legais. É um livro curto sobre edição. Mas as formas que ele coloca ao longo dele vai bem além disso. Tem um punhado de idéias interessantes das quais ele fala a respeito e que parece se conectar com o processo e também a vibe ou letras nesse novo disco.”

3. Turner voltava à produção de filmes como inspiração

Talvez seja por que ele estivesse discutindo a sua arte com o ator Martin Compston, mas Turner mencionou bastante isso.
“Butley Priory foi mais como a tomada de gravação e aí a outra coisa lá na França³ fosse como a edição. A forma como Walter Murch descreve a edição em seu livro – ele a respeito de se encontrar com alguns amigos de sua esposa e um deles lhe diz: ‘Mas então é você o cara que tira fora todos os trechos ruins, então?’ Inicialmente ele fica ofendido, mas depois de todos esses anos ele acabou por pensar: ‘Bem, sim, é exatamente isso o que estou fazendo.’ Mas a questão é o que constitui um trecho ruim…
“Tem um ótimo trecho no qual ele fala a respeito da descoberta de um caminho através de todo esse material que se tem, e como há um milhão de diferentes formas de se chegar lá. Essa parece ser mais a forma de como este disco foi amalgamado, quiçá. Muito mais do que os outros discos que fiz no passado.
“Eu sinto que um produtor de palavras intenta expressar uma coisa diferente na música do que tenta num filme. Alguns dos meus discos favoritos são de David Axelrod. Ele fez um monte de temas musicais e coisas e tal. Ele é um produtor musical, mas a terminologia realmente deve de ser de, quiçá, diretor.

4. Uma música-chave não configurou no corte final de The Car

Turner falou longamente sobre a edição do LP, emendando as faixas para juntá-las, criando o som. E ele também explicou como as músicas no The Car foram criadas mais na edição do que no processo dos LPs predecessores.
“Algumas vezes uma frase acaba por encontrar sua rota para uma outra música. As coisas se movem muito mais livremente em volta disso do que no início de tudo,” disse ele.
“Para esse disco, tem uma música que não entrou que eu sinto que é deveras importante. Era para estar lá esse tempo todo – e no fim, acabou não estando. Não queria ficar voltando ao livro, mas mais uma vez… – eu vou preencher a cota de Walter Murch! Murch fala sobre como em Apocalypse Now tem uma emenda que eles fariam para amalgamar o filme. Mas para cada emenda há 15 ou 20 do que se chama ‘emendas fantasmas’, onde se faz o corte mas então o desfaz no dia seguinte. Eu gosta dessa idéia dele de que elas meio que ainda estão lá. Tem um efeito dominó. Nós os desfazemos e aí há um novo caminho através dele”.
Atentem-se para a música faltante de The Car no próximo LP, num próximo show futuro, ou numa edição expandida do LP um dia desses.

(Bastidores do show em Budapeste)

5. Alex vem se sentindo nostálgico dos dias iniciais enquanto a banda inicia sua terceira década de tocarem juntos

Perguntamos se dava a impressão de que fazia 20 anos desde que começaram a ensaiar numa garagem em Sheffield – e Turner revelou que as frases na nova faixa, Hello You, são exatamente sobre os seus anos de adolescência.
“Provavelmente dá a impressão sim de ter sido há 20 anos. Mas essa [música] é uma bem interessante, né? Pois às vezes parece que se poderia atravessar uma porta e, na hora, estar lá de volta. Estou tentando arranhar um pouquinho essa sensação que estamos descrevendo aqui, no novo disco. Dá a impressão de ser há muito tempo, mas que pode muito bem estar atrás da gente. Às vezes ela lembra de ti e te leva de volta.
“Tem uma passagem em Hello You que diz: ‘I could pass for 17 if I just get a shave and catch some zzzs.’ Talvez esse seja uma distração – só um pouquinho. Bem, um monte. Sou eu pensando em ir a um clube de sinuca com meu avô igual fazíamos naquele tempo. Mas, espere um pouco, tem todo esse tempo no meio.

6. Turner está ciente das esperanças e expectativas dos fãs pelo novo álbum – mas a banda está arando o seu próprio sulco

“Se a idéia fosse fazer algo que atendesse a essas expectativas, hipoteticamente, seria difícil para mim sequer saber quais estas seriam,” diz ele. “Tem que seguir os seus instintos da mesma forma que fizemos no começo. Dessa forma, parece que tudo é como que conectado com nós de 20 anos atrás, na garagem, quando tudo era instinto puro.
“E certamente não parte de nós tentar ser do contra. Se tanto, eu que fui mais do contra, então. Há essa idéia, suponho, do que essa expectativa seja. Mas é mais de seguir o seu instinto. Eu acho que esse sempre foi o caso de cada disco, na verdade.
“Trata-se de tudo ter seu lugar próprio e não de tudo saltando de uma vez só. Tem locais para se usar todas as coisas de uma fábrica. E houve vezes que eu usei a ferramenta errada para o trabalho, provavelmente. Mas se aprende com isso. Desta vez, mantivemos os olhos mais na performance.”

7. Turner consegue traçar uma linha desde seus discos como The Last Shadow Puppets até o The Car

“Nos (The Last Shadow) Puppets todas as partituras, todas as coisas da orquestra foram compostas por este cara chamado Owen Pallett,” ele nos contou. “Vamos salientar isso, mas essa é parte dele naquele projeto [Puppets].
“Mas há cordas nos discos dos Monkeys e nestas eu estava envolvido em sua composição; com o produtor James Ford e Bridget Samuels, que é uma arranjadora de cordas. James e eu entramos com as melodias. Pode-se compor no piano e ouvir as melodias em sua cabeça da mesma forma que eu ouvia uma melodia vocal. Às vezes é assim que se comporá um teclado [de piano] ou uma linha de guitarra. Mas definitivamente há uma dimensão que se consegue de cordas reais tocando juntas que não dá pra ser emulado com qualquer outra coisa: o que é mágico.
“Eu acho que chegamos mais perto de uma versão melhorada de um som geral mais dinâmico com este disco. As cordas neste entram e saem de foco e esse foi um movimento deliberado e, com sorte, tudo tem seu próprio lugar. Há momentos que a banda vem à frente e daí então as cordas que vêm à frente.”

…E os Arctic Monkeys ainda estão se divertindo em tocar as antigas

As músicas novas podem ser que sejam cinemáticas e orquestrais e melancólicas, mas assistir a eles tocarem, bem do lado do palco, não resta dúvida do amor que eles retêm pelas músicas do início – aquela energia empolgante e de grande barulho.
“A gente vem tocando um pouquinho de View From the Afternoon nesses últimos shows. E quando estou fazendo isso, parece que levaria mais que um barbear e um sono para se ter 17!” diz Turner.
“Eu fico olhando pra trás por sobre os ombros pro (baterista Matt Helders). ‘Você ainda está aí, amigão?’ Que nada, ele tá de boa. Sou eu que tô bufando e resfolegando. Ele parece muito bem. Sinto como se estivéssemos construindo [algo] e prontos para estas sessões [nos shows] mais explosivas e aí ele [Matt] curva-se para trás e simplesmente tá num dois e quatro(4) por um tantinho enquanto que eu vagueio pra lá e pra cá!
“Então tudo se desenrola por um minuto e aí nós damos uma conclusão [a música]. Nesses dias eu lembro que a forma que eu costumava usar a minha guitarra bem alta mesmo. Tudo era bem ajustado. De conjunto atlético e tudo o mais zipado pra cima [era Whatever + Favourite]. Agora penso eu: largue a guitarra. Baixe a guarda, até. Descanse um pouco. Descansem todos.”

E, numa setlist em constante mudança que agora contém a segunda faixa do The Car:

I Ain’t Quite Where I Think I Am? Os fãs que estão comprando os ingressos para a turnê do próximo ano provavelmente verão músicas do decorrer de toda as gravações da carreira de 20 anos.
Aqui está a resposta de Alex Turner a Martin Compston sugerindo que o time deles está agora assim como o time de jogadores de futebol de Manchester City: com escalações [setlists] igualmente fortes e de primeira-linha já disponíveis.
“É bem misterioso, para mim, a setlist e em que ordem ela deveria ser,” diz ele. “Esse tempo passou e certas coisas não são mais do jeito que se esperava que fossem.
“Isso parece triste, mas não é. Certas coisas representaram certos momentos do passado e agora parecem ser como uma coisa qualquer, e como tal, deveriam ficar num lugar qualquer.
“Ainda estou trabalhando nisso. É empolgante se apresentar de novo mas ainda estamos embaralhando as cartas da setlist. As antigas – algumas são melhores em evolução que outras. Algumas ficam para trás. Você tenta reintroduzi-las mas algumas são mais adaptáveis ou se encaixam onde se tenta fazê-las ir.
“Então, não se parece como Manchester City… mas com sorte parecerá.”

 

Notas:
1 Embora a matéria deu a entender que The Car também seria álbum nº1, acabou sendo o primeiro #2 da banda.
2 Num Piscar de Olhos (In the Blink of an Eye) publicado em português pela editora Zahar (2004). Link para compra: https://amzn.to/3OwdoKi
3 Provavelmente Alex se referisse aqui a sua entrevista concedida em meados de junho para a revista de esportes francesa L’Équipe. Você pode lê-la: aqui.
4 Técnica de bateria.

 

Matéria publicada em 27/09/22

Fonte: Big Issue

Por Abrian Lobb

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