Header

Review : NME! “Se você está aqui procurando encontrar hinos do porte de um festival, você sairá muito decepcionado” [Nota 4 de 5]

A banda de Sheffield dispara para as estrelas em seu sexto e contraditório álbum
Nota: 4 de 5
Por: Thomas Smith

Em julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros humanos a pisar na lua. A jornada havia começado quatro dias antes, na Flórida, culminou com os dois astronautas pousando no local combinado, Armstrong, chamou de “Tranquility Base”. Você sabe o resto: eles fincaram uma bandeira, saltaram um pouco e Armstrong disse a frase “um salto gigantesco para a humanidade”.

O sexto álbum do Arctic Monkeys, cujo nome é inspirado por aquele local de pouso, não é tão grande quanto conseguir colocar um homem na lua mas pode ser considerado o passo mais ousado da banda até agora. “Salto gigante”? Porra, mal pode vê-los daqui”.

A banda tem mudado voluntariamente em cada era, desde o início em seus primeiros álbuns, até caras do deserto em ‘Humbug’, passando por deuses do rock em ‘AM’ de 2013. Mas esse é o Arctic Monkeys como você nunca os ouviu antes. Se você está aqui procurando encontrar hinos do porte de um festival, você sairá muito decepcionado. Mas se você quiser saber o que é, sem dúvida, é o álbum mais intrigante da banda até o momento.

Composto inicialmente em um piano por Turner em sua casa em LA, as músicas receberam autorização do guitarrista Jamie Cook, que achou que elas eram apropriadas o suficiente para a banda gravar. “Tranquility Base Hotel & Casino”, no entanto, é o mais perto que já estivemos de ouvir um disco solo de Alex Turner, além de sua trilha sonora para o filme Submarine de 2010. Há uma notável falta de refrões viáveis e várias das músicas apresentam um ritmo vagaroso que está muito longe da maioria dos materiais dos Arctic Monkeys. A maior parte do álbum de 40 minutos é ocupado pela voz de Turner. A partir da primeira frase de “I just wanted to be one of the Strokes / now look at the mess you made me make”, é evidente que ele não é apenas o arquiteto deste estabelecimento luxuoso – ele é o concierge (anfitrião), garoto de toalha, bartender.

Isso não é para desconfiar das performances do resto da banda. Eles transformaram o que pode ter parecido com uma sequência espiritual do álbum sombrio de 2016 do Father John Misty, “Pure Comedy”, em uma afirmação excessiva e grandiosa ao estilo Bowie. As cordas extravagantes preenchem “One Point Perspective” e é “The Ultracheese” é uma das melhores performances da banda como um todo até hoje – como “Que Sera, Sera” de Doris Day, mas com um lindo solo de guitarra. O baterista Matt Helders, cujas habilidades são um pouco subutilizadas neste disco, encontrou um lugar experimentando sintetizadores em várias faixas, enquanto o baixista Nick O’Malley faz um esforço constante com um fantástico trabalho harmônico nas linhas de baixo irresistíveis. ‘Four Out of Five’ soa mais familiar, existindo entre alguns dos arranjos mais pops de ‘Suck It And See’ e a vibe da Costa Oeste dos anos 70 que dominou o último álbum ‘The Last Shadow Puppets’. ‘Everything You’ve Come To Expect’.

O “Tranquility Base Hotel & Casino” premiará os ouvintes de mergulho profundo – especialmente aqueles que têm interesse nas letras mais densas e autoconscientes de Turner até o momento. Ele brinca com religião,

 

(“emergency battery pack just in time for my weekly chat with God on videocall / bateria de emergência em tempo para o meu bate-papo semanal com Deus via videoconferência”),

 

tecnologia (“my virtual reality mask is stuck on ‘Parliament Brawl’ / minha máscara de realidade virtual está presa na ‘Briga do Parlamento'”)

 

e política (“the leader of the free world reminds you of a wrestler wearing tight golden trunks / o líder do mundo livre te lembra um lutador vestindo calções apertados e dourados”).

 

Há humor aqui também, e algumas das melhores descontrações vêm quando as coisas ficam um pouco bobas – de referências Blade Runner a ilusões comercial de cosméticos (“Jesus in the day spa” / Jesus no dia do spa) e momentos auto-depreciativos “full of shite” (de saco cheio). Além disso, Turner consegue transformar who are you going to call, The Martini Police? / para quem você vai ligar, a Polícia de Martini?” Em um refrão útil em “The Star Treatment”. É um milagre sangrento.

Mesmo que não pareça imediatamente, o que DNA dos Arctic Monkeys habita nessas novas músicas. “Golden Trunks” tem um riff tão rude quanto qualquer coisa em “AM”, e há uma sensação distinta de “Humbug” em músicas como “Science Fiction” e “Batphone”. A jornada da banda de Sheffield os levou do “rock’n’roll chip-shop”, nas próprias palavras de Turner, para seu próprio “Pet Sounds”¹: os tópicos estavam lá, mas Turner finalmente os uniu em um arco bastante magnífico. Dependendo de onde você está esse álbum provavelmente será uma grande decepção o ou um glorioso passo à frente. Mas para onde exatamente?

 

¹ Pet Sounds é o décimo primeiro álbum de estúdio da banda de rock americana The Beach Boys, lançado 16 de maio de 1966 pela Capitol Records. O álbum se caracteriza por ser diferente dos trabalhos anteriores da banda: no lugar do habitual rock and roll e da temática surf que os caracterizava, no disco predomina o pop barroco, com um conteúdo lírico mais sofisticado, sendo mais reflexivo e sentimental. (The 500 Greatest Albums of All Time». Rolling Stone)

 

Fonte : NME

Tradução : Rafael / Bruna

Revisão : Bruna

COMENTE!