Header

Alex Turner para a LA Times : ‘Novos Monkeys: É como Star Wars.’

K.C. Alfred / San Diego Union-Tribune

 

Alex Turner do Arctic Monkeys foi à lua e tem um álbum para mostrar isso

Podemos tirar um momento para falar a respeito do seu bloco de notas sobressaindo o seu bolso aí?

Alex dá um sobressalto. Invasiva demais a questão.

“Oh! Uh heh, ” ele gagueja, cavando suas mãos no seu blazer. Ele troca seu bloco de notas para outro bolso seu, fora da vista do jornalista de visão de raio X. Turner, agora com 32 anos, como o líder da britânica Arctic Monkeys, é um homem que acredita em mitologia. Não se pergunta sobre seu bloco de notas. Não se pergunta a Samson que xampu ele usa.

 

“É um truque de escola,” o atual residente de L.A. diz no seu arrastado sotaque de Yorkshire. “A minha mãe era professora de ensino médio, e ela diria, ‘Se você escreve a coisa, você se lembra dela.’ Ela está certa.”

 

Turner peleja para se lembrar das palavras e leva excessivamente muito para localizá-las.

Voltando para a terra natal do Turner, os Arctic Monkeys são a maior banda britânica. Eles estão à beira de lançar “Tranquility Base Hotel & Casino”, o sexto álbum deles e o primeiro em cinco anos. Nenhuma dosagem de antecipação febril preparará os fãs para as menos tradicionais e mais obscuras disposições de melodias, que apresentam-se como excêntricas vinhetas em vez dos hinos de versos e refrões.

Hoje, no entanto, Turner está pelejando para descrever as inflexões de seus tons vocais neste álbum. A voz dele vai a lugares teatrais como nunca antes.

“Qual é a palavra para isso agora?” ele se pergunta, descrevendo o seu, ainda não paralelo, vibrato na faixa-título do álbum. “Ahh. Esqueceu a palavra.”

Está tudo em se você não consegue encontrá-la.

“Eu não acho a outra palavra nova que eu aprendi para me lembrar daquela.”

Qual é a palavra?

“Se refere aos espaços entre um texto. Uh… Kerling?”

Kerning.

“Kerning! É assim o jeito de eu me lembrar que palavra é para descrever o nome do… não o tom, mas o quão ampla a voz é. Não alta ou baixa, mas…”

Até mesmo o fato de ser segunda-feira é uma sugestão que Turner leva tempo para matutar, acariciando seu cavanhaque, fitando seus olhos em seu café preto. Ele chega a “inconfundível”. É uma “inconfundível” manhã de segunda-feira.

“Não que eu leia as suas anotações, mas é o meu nome ali?” ele pergunta, olhando para o “ALEX TURNER” no cabeçalho do meu bloco de notas. “É uma coisa assustadora.”

 

K.C. Alfred / San Diego Union-Tribune

 

Engraçado isso. Este novo álbum dos Arctic Monkeys soa como se fosse um disco solo. Foi concebido como um disco solo. “Este álbum é bem, uh… bem, é bastante diferente,” Turner admite. E ainda sim é um disco “Arctic Monkeys”. Era para ter sido um solo?

 

Ele olha para o nome dele outra vez. “Deixe-me pensar nisso.” Elvis Presley canta um refrão completo de ‘Hound Dog’ no jukebox na 101 Coffee Shop enquanto Turner fecha seus olhos, invocando sua língua. “Eu não acho que era para ser… Não há interesse nesse momento de fazer um… Eu definitivamente pretendia fazer um disco dos Monkeys.”

 

Os Arctic Monkeys são daquela rara casta de banda que refuta a teoria popular de que o rock’n’roll está atualmente desvalido. O grupo instantaneamente esgotou o show de sábado no Hollywood Forever, e tão rápido quanto embalaram duas noites no Hollywood Bowl de Outubro. O álbum de 2013 da banda, “AM”, alcançou o Top 10 nos Estados Unidos e no exterior, e tiveram cinco LP’s nº1.

A banda tem três indicações ao Grammy, e seu “AM” conseguiu vencer o Brit Award em Álbum do ano. Turner fez um discurso na cerimônia que se tornou a mais falada na história do Brits — foi tanto execrada quanto amada.

“Aquele rock ‘n’ roll, eh,” ele disse. “Aquele rock ‘n’ roll, não some simplesmente.” Ele derrubou o microfone e caminhou para fora do palco. Numa sala abarrotada de pop “do momento” e caçadores de mídia, ou você está com ele ou contra ele.

“Ah!” ele diz, recordando. “Eu teria preferido que eu não tivesse derrubado o microfone. Teria sido melhor visto. Há momentos que eu gostaria de ter me comportado de forma diferente. A primeira vez que nós fomos na NME Awards, eu andei de um jeito que deixou a minha tia alarmada.‘Não é assim que se anda.’ E não era. Mas no caso do discurso do Brits, aquele foi mais o meu caminhar. Talvez não completamente, mas era o mais próximo da forma que eu caminho de verdade.’

É corriqueiro ser percebido que ninguém sabe onde o “Alex Turner: estrela de rock inatingível” acaba e o “Alex Turner: um homem poeta comum” começa. Ele prefere seu trabalho a falar dele. Monkeys à parte, Turner é viciado em trabalho.

Em 2008, durante o primeiro hiato dos Monkeys, ele começa um projeto paralelo, o The Last Shadow Puppets com o Rod Stewart dos karaokês de Liverpool, Miles Kane. Ele compusera a trilha-sonora para o filme de 2011 “Submarine”. Em 2016, após o segundo hiato dos Monkeys, Kane e Turner se reuniram para um segundo LP. De seu estúdio caseiro Los Feliz, ele encontrou a cantora-compositora Alexandra Savior e em 2017 co-produziu o álbum de estreia dela.

São os Monkeys, no entanto, que perdura o pão de cada dia dele.

Antecipação ensombra cada movimento deles. Já se fazem cinco anos desde “AM”. A banda não vai dar uma prévia de qualquer coisa até o lançamento em 11 de Maio. Por uma boa razão. Não há singles óbvios.

É o trabalho mais desafiador do grupo; tão próximo ao Last Shadow Puppets quanto os Monkeys poderiam estar — virtualmente com menos refrões, muito L.A., tão estranho quanto “Moonage Daydream” do David Bowie por meio da Divina Comédia.

É um álbum conceitual se situando numa taqueria na Lua — uma, como descrita pela capa do álbum, Turner realizou ao construí-la com papelão. A criação parece uma peça da série de ficção científica britânica “Thunderbirds” dos anos 60.

 

Quando neste palco lunar, Turner torna-se confortável ridicularizando a sociedade com suas letras mais observacionais desde 2006. “Eu me sinto mesmo o mais próximo que já estive do primeiro disco,” concorda. “Eu achei a poesia nessa ideia ridícula de uma instalação na Lua. A Ficção Científica pode gerar esses mundos de fantasia em outros planetas a fim de…”

Ele empaca. Para criar uma alegoria sociológica para da qual poder analisar o status quo? Como “Star Wars”? “Esta é a nossa chamada: ‘Novos Monkeys: É como Star Wars.’” Suponho que não posso discordar de você.”

 

Apesar de seus julgamentos, o álbum busca entreter. Turner colheu frases de bolhetins de notícias para encaixar na melodia. “One Point Perspective” abre: “Dancing in my underpants, I’m gonna run for government.”[Dançando de cueca, eu vou concorrer ao governo]. Nas músicas “Batphone” e “The World’s First Ever Monster Truck Front Flip” ele critica a tecnologia. “You and Genie wearing Stetson hats, trying to gain access to my Lily pad” [Você e o gênio usando chapéu Stetson, tentando ganhar acesso a meu nenúfar], ele verseja, dando cutucadinhas no iCloud.

 

K.C. Alfred / San Diego Union-Tribune

 

“Star Treatment” explora o seu olhar de pássaro da celebridade, compilada de estranhas conversas noturnas. “What do you mean you’ve never seen ‘Blade Runner’?” [O que você quer dizer com nunca ter visto Blade Runner?], ele entoa. É alegremente peculiar. É inegavelmente Turner.

É também um espelho de onde ele está. Para Turner, L.A. poderia ser tão bizarro quanto ser um astronauta numa estação espacial. Ele vive coladinho ao glamour desvanecido de Hollywood e das construções da Cientologia. Apenas um de seus amigos de infância é vizinho — o baterista Matt Helders. O guitarrista Jamie Cook e o baixista Nick O’Malley estão na Grã-Bretanha.

Não é a geografia que isolou Turner. Enquanto ele vagueia em meio a seu futuro de nostalgia, os outros três estão casados e com filhos.

 

“Nunca me senti mais abandonado, Eve,” ele sorri lenta e certamente.

 

***

A linha de abertura de ‘Tranquility Base Hotel & Casino’ reflete a auto-consciência de Turner: “I just wanted to be one of the Strokes / Now look at the mess you made me make” [Eu só queria ser um dos Strokes / Agora veja a bagunça que você me fez fazer].

Ao emergir, os Monkeys foram batizados de “Strokes Britânicos”. Turner era um grande fã: “Eu não acho que nós teríamos ido à garagem da minha mãe e do meu pai se não fosse eles.”
Não foi planejada como primeira linha, mas como um tapa-buraco. Turner fala a respeito do método do Paul McCartney. Diz a lenda que ‘Yesterday’ começou com as palavras de trabalho “scrambled eggs” [ovos mexidos].

 

“Esta foi um pouquinho dos ovos mexidos,” diz Turner. “Eu estava imaginando com quem estava falando aquilo na música. Estou falando pra mim mesmo, na verdade.”

 

Na “Star Treatment”, Turner luta com a passagem do tempo. “Este sentimento de, “‘Pera, eu estava lá um minuto atrás. Parecia que era ontem que eu estava querendo ser um dos…” Ele pensa.

 

“Mesmo um daqueles em outras bandas que eram como os Strokes.” The Vines ou algo do tipo? “Ah, eu amo The Vines” ele fala da banda banda australiana de grunge. “Eu e o Nick O’Malley amávamos The Vines. Você falando do The Vines, estou certo de que sonhei com os Vines um dia d…”

 

Desde os apáticos dias de Vines deles, eles tinham visto muitas encarnações. O segundo disco foi o mais alto; o terceiro foi um surto psicológico obscuro; o quarto, melancólico e pop; o quinto, todo batidas e riffs. Já este, é um giro à esquerda, o mais ousado desde o terceiro.

Naquela época, aquele álbum — “Humbug” (2009) — soava muito fora de lugar, mas ele construiu a ponte para o de agora. Este outra vez registro é selvagemente diferente, mas possivelmente nasce de uma mentalidade similar.

 

“Sim, tem algo a ver,” Turner pausa. “Ambos este e aquele pareciam ser como se fossem o único movimento que podíamos fazer. Há uma ideia de que este álbum foi radicalmente removido do lugar onde estivemos. Eu consigo entender isso, mas eu não acho que seja tanto o movimento que as pessoas sugerem. As reações fazem parecer que eu tinha mais escolha do que eu tive. Não sei se havia mais alguma coisa que eu poderia ter feito.”

 

A nave lunar de Turner vem em forma de um piano que ele recebeu de seu 30º aniversário. Como já é tradição, ele compôs “quase completamente sozinho”, mas as suas mãos pousaram em diferentes lugares dos que na guitarra.

Pela primeira vez, ele começara a gravar a seu modo no quarto de hóspedes com seu gravador de 8 faixas. Ele utilizou textos de ficção científica, a música de Dion, e os clubes de jazz apresentados em três filmes de Jean-Piere Melville: “O Samurai,” “O Círculo Vermelho” e “Expresso para Bordeaux”. “Foi o que mais eu tinha trabalhado independentemente antes de recrutar ‘os rapazes’.” Os rapazes subiram a bordo. Eles se reuniram em Paris com o produtor regular James Ford.

 

Você se pergunta como essas músicas fazem Turner se sentir. “Isso é difícil de responder. Eu não sei se algum dia eu vou me sentir do jeito que me sinto quando eu ouço aos meus discos favoritos.”

 

Ele levanta seu ouvido para cima. “Pet Sounds” acabou de chegar. “Bem na hora com Brian!” ele sorri. “Este disco é tão Califórnia, né? Me leva de volta à estrada por uma vila entre Sheffield e Rotherham — este lugar chamado Rawmarsh, onde o meu pai trabalhava. Eu dirigia na estrada 101 ouvindo ‘Pet Sounds’, mas na minha cabeça eu estava indo a Rawmarsh…”

 

Ele para antes que ficasse pessoal demais.

A última linha do álbum é um dos seus momentos introspectivos: “I’ve done some things that I shouldn’t have done. But I haven’t stopped loving you once.”[Eu fiz umas coisas que eu não deveria ter feito. Mas eu não parei de te amar uma vez].

 

O que ele fez? “Err.” Ele começa a dar risada. “É duro dizer, né? Há uma coisa que lamenta uma coisa e outra, para ser publicada.”

 

Ele distrai com um erro da juventude de sua vida: The Strokes. Ele chegou a eles tarde demais e perdeu o primeiro show que eles tocaram no Leadmill de Sheffield.

 

“Eu ainda tinha recebido aquele CD do Nick O’ Malley,” ele diz. “Na minha memória, ele me deu por cima de um guidão de uma [bicicleta] BMX. Mas eu não sei se de alguma forma eu acabei de inventar isso.”

 

Bem, não seria a primeira vez.

Fonte: LA Times

 

COMENTE!