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Resenha do “Tranquility Base…” pela UNCUT; leia na íntegra

ARCTIC MONKEYS
Tranquility Base Hotel + Casino
Domino
7/10

Aposto que ele fica bem no keyboard. Uma brava reinvenção do Alex Turner e companhia.
Por John Robinson

Confortável em seu roupão, ele relaxa na sua suíte. Não mais um forasteiro, mas um convidado bem-recebido, ele reflete sobre o quanto as portas a este e outros estabelecimentos, outrora fechados, agora se abrem para bem recebê-lo. Ele endossa o lugar com sua celebridade irritadiça; endossa-o com exclusividade. Mas só por ele ter chegado não implica que ele esteja completamente à vontade. Agora, quando olha ao redor, ele o faz um pouquinho ironicamente — e anota seus pensamentos no piano.

E é claro que é muito Josh Tillman, que faz discos luxuosos e irônicos como os de Father John Misty, depositando sua persona em uma LA moderna detalhada e decadente. É peculiar, no entanto, que dentro de um mês da chegada de um gracioso e sucinto novo single do Tillman, poderemos agora estar ouvindo o novo álbum do Arctic Monkeys e descobrindo muitas das mesmas qualidades.

É claro que diz Arctic Monkeys na capa, mas este é um álbum de microfone mais aproximado de seu cantor. Alex Turner tem desde sempre sido a cara e a casa de força do grupo de Sheffield, mas a banda evoluiu junto: através da experimentação de rock-desértico à obra-prima de 2013, AM — um trabalho que presta homenagem ao heavy rock, a música de origem negra e à casa adotada da banda em Los Angeles.

Cinco anos depois, Turner e o baterista Matt Helders são os únicos membros que continuam em LA — e o novo álbum dos Arctic Monkeys sente isso, se não exatamente como um LP solo, então muito mais como o produto de um artista trabalhando isolado. Composto pela sua maior parte em um grande piano ganhado como presente de aniversário, e com muitas das tomadas aparentemente provindas das demos originais caseiras do Turner, Tranquility Base… é um prolixo e monólogo interior de um disco, para com sobre o mesmo tipo de relacionamento que o trabalho anterior de The Boatman’s Call do Nick Cave tem.

Este não é o tipo de álbum de guitarra. Tranquility Base… tem um tipo de classicismo a que Last Shadow Puppets estavam mirando, um sentimento cinemático Jean-Claude Vannier — é o primeiro trabalho dos Arctic Monkeys que se pode imaginar alguém sampleando. Turner toca a seca sabedoria-mundial do Serge Gainsbourg da obra (o álbum começa com a linha: “I just wanted be one of the Strokes…” [Eu só queria ser um dos Strokes…], entregando (principalmente no “American Sports” e na faixa-título) algumas das maravilhosas performances vocais à la Bowie.

É um álbum que você tanto lê quanto ouve. Contra ao pano de fundo da lua e espaço (“Tranquility Base” é um sítio espacial do pouso original na lua em 1969; a maioria das 11 músicas, mencionam o espaço de uma forma ou de outra), Turner vagueia uma LA imaginada, uma persona com um chapéu numa rodada de bares Charles Bukowski e outra em um envoltório de algas marinhas num dia de spa. O tópico de uma música (um cantor de salão; Batman; Políticas do USA; uma maleta) aparecerão em outras, dando a tudo isso coesão e mistério.

É atemporal, como um sonho do espaço, antigo e moderno, um efeito muito assistido pela música. Subjugado, mas quente e clássico do tipo que os músicos que buscam mixagens lendárias aspiram encontrar, o álbum começa a perder ‘espaço’/ fama analógica com “Star Treatment” e Turner canaliza um Major Tom/personagem de estilo Bowie que estava “a little bit too wild in the 70’s” [um pouco selvagem demais nos anos 70].

No entanto, muito o usa de seu vocabulário, isto não é simplesmente uma investigação de uma condição da fama, mas acerca de um quadro americano maior. Não mais um forasteiro visitando, Turner sintonizou-se completamente agora aos grandes temas americanos; poder, liberdade, uma era dourada percebida. Bombardeado com um excesso de informação e distração, no entanto, pode ser difícil focar no que é de valor duradouro.

No single “Four Out Of Five”, uma música glamourosa bem Bowie, ele desconstrói conquistas, regojizando-se do vocabulários de revisões. No “One Point Perspective”(musicalmente uma batida de hip-hop super simples) tem um gancho que esboça o problema de foco, mais precisamente:

 

“Bear with me man, I lost my train of thought.” [Fica comigo, cara, eu perdi o trem do pensamento]. Seu lugar próprio nisso, como artista, ele envia com um arranjo de espetacular floreio em “Science Fiction”: “I want to make a simple point about peace and love but in a sexy way where it’s not obvious/ Highlight dangers and send out hidden messages…”[Eu quero fazer uma simples observação sobre paz e amor, mas de uma forma sexy, que não é óbvia / Sinais de perigo e enviam mensagens escondidas…”

 

O que é particularmente atraente nesse álbum de citações infindáveis é a forma que Turner vai emergindo da profunda imersão na fantasia das músicas e ressurge para lembrar a você que ele não foi tragado por quaisquer delas. Ao fim da incitadora “She Looks Like Fun”, uma novidade de faixa em estilo dos anos 60, ele censura-se a si mesmo: “I’m so full of shite, I need to spend less time stood around bars.” [Estou de saco cheio, preciso passar menos tempo entre bares]. Ao fim do álbum, tem uma grande balada que reprisa a vive Semana Perdida da ótima “No 1 Party Anthem” do AM. Turner, obviamente, chamou a isso de “The Ultracheese”.

Discreto mas cativante, Tranquility Base… é um disco de queima-lenta, que duvida de si mesmo, mas que sempre segue em frente. É um corajoso novo passo, mesmo que possa ser um pequeno num compasso único e um pouco retido. Em tamanho panorama, no entanto, vale seguir o exemplo do Alex Turner. Sinta-se em casa — veja se você não consegue conhecer o local um pouquinho melhor.

 

Notas da Luva
1 Star Treatment
2 One Point Perspective
3 American Sports
4 Tranquility Base Hotel + Casino
5 Golden Trunks
6 Four Out Of Five
7 The World’s First Ever Monster Flip
8 Science Fiction
9 She Looks Like Fun
10 Batphone
11 The Ultracheese

 

Produzido por: James Ford e Alex Turner.
Gravado em: La Frette, La Frette-sur-Seine, França; Vox, Los Angeles; Lunar Surface, LA; Londres.
Pessoal: Alex Turner (vocais, backvocais, guitarra, guitarra barítono, baixo, bateria, piano, órgão [tipo de piano], sintetizador, Orchestron [teclado sintetizador], Cravo [espécie de piano], dolceola [piano pequeno].
Jamie Cook (guitarra, guitarra barítono, backvocais);
Matt Helder (bateria, tímpano, sintetizador, teclado Farfisa, backvocais);
Nick O’Malley (baixo, guitarra, guitarra barítono, backvocais);
Fames Ford (bateria, percussão, vibrafone, teclado Farfisa, teclado Harpsichord [pequeno], guitarra barítono, violão, pedais, Orchestron, tímpano);
Tom Rowley (guitarra, violão, piano);
Zach Dawes (guitarra barítono, piano);
Tyler Parkford (piano Farfisa);
Evan Weiss (violão);
Loren Humphrey (bateria);
James Righton ( teclado Wurlitzer);
Josephine Stephenson (piano);
Cam Avery (backvocais).

 

 

 

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