Header

Review: Alex Turner e Jamie Cook sobre o ‘Tranquility Base Hotel & Casino’ para a Brooklyn Steel!

Alex Turner nunca pegou um piano para tocar quando criança. Depois de alguns anos de lições, tudo que ele podia realmente fazer era um ritmo jazzístico improvisado, mais para o alívio cômico do que para qualquer outra coisa. Ele certamente nunca abraçou o instrumento como fez com a guitarra – uma fixação imediata quando ganhou uma na sua adolescência. Mas tudo isso mudou no início de 2016, quando um amigo deu a Turner um belo Steinway Vertegrand pelo seu 30º aniversário:

 

“Eu cheguei de volta das férias e estava lá” diz ele apontando para o piano. “Eu simplesmente amo essa coisa, eu venho sento e passo meus dias aqui. A adição do piano nesta sala foi definitivamente uma grande parte da produção deste álbum, porque de repente ele se tornou o centro disso [do álbum]”.

 

 

 

Você pode ouvir o que ele quer dizer desde o início do Tranquility Base Hotel & Casino. O sexto álbum de estúdio do Arctic Monkey abre com “Star Treatment”, um monólogo musical elegantemente sedutor que você não poderia fazer da mesma maneira com uma guitarra. Ouça e você pode imaginar Turner sentando lá – em uma colina de Hollywood, em uma sala pequena com todas as coisas, um piano Steinway, uma cerveja mexicana e meio pacote de cigarros fumados, enquanto as palavras começam a sair:

 

““I just wanted to be one of The Strokes, now look at the mess you made me make / Hitchhiking with a monogrammed suitcase, miles away from any half-useful imaginary highway.” [Eu só queria ser um dos Strokes, agora olhe para a bagunça que você me fez fazer, pedindo carona com uma mala com monogramática, a milhas de distância de qualquer estrada mais ou menos imaginaria]”.

 

É um começo instantaneamente intrigante para um álbum que segue o LP comercialmente mais bem sucedido do quarteto britânico até agora, o AM de 2013, que alcançou o 1º lugar em paradas em várias países, e o status de platina nos Estados Unidos e com aproximadamente 5 milhões de cópias em todo mundo. Mais importante ainda, o foco inesperado do álbum em batidas de hip-hop e melodias inspiradas em R&B dos anos 90, lembrou os ouvintes de que essa banda de amigos de infância de Sheffield continuou interessada em explorar novos terrenos musicais. O álbum Tranquility Base Hotel & Casino eleva a parada em grande escala; é um álbum ousado e brilhante que reflete a visão criativa mais abrangente de Turner. É como se ele estivesse dirigindo um filme noir sobre um resort de colônias lunares onde a banda da casa noturna é o Arctic Monkeys.

As ideias centrais para o Tranquility Base Hotel and Cassino se consolidaram em LA no início de 2017, quando Turner começou a gravar demos em seu modesto estúdio caseiro – que costumava ser o quarto do baterista Matt Helders quando os garotos se mudaram para LA em 2012, mas acabou se transformando numa espécie de centro criativo. Em um lado do estúdio está o piano Steinway, a bateria, alguns instrumentos vintage e poucas guitarras. Do outro um espaço de trabalho com cartões recortados e lâminas de estilete – resultado das incontáveis horas que Turner passou construindo o design do elaborado modelo arquitetônico que está na capa do álbum:

 

“Eu não sei o que aconteceu ali”. O cantor admite. “Fiquei um pouco obcecado”. Ele até começou a construir um modelo do palco para a nova turnê do Arctic Monkeys.

 

“Esse espaço em que estamos agora ficou conhecido como a ‘superfície da lua'” Turner conta. “Você conhece aquela teoria da conspiração sobre Stanley Kubrick ter forjado o pouso da lua em sua garagem ou porão?! Em algum momento comecei a dizer às pessoas ‘Estou indo para a superfície da lua um pouco’ quando vinha trabalhar aqui”.

 

Mesmo que ele raramente tenha escrito [músicas] em outros instrumentos que não a guitarra, músicas com base de piano começaram a brotar pra fora dele. “One Point Perspective” começa com um riff de piano e os vocais de Turner, com os elementos sugestivamente se conectando um por um, como novos parceiros de dança o cantor gira pela sala antes de perceber que na verdade está sozinho. Na cintilante e cinemática faixa título, Turner adiciona uma melodia de baixo grudenta à seu falsete sedutor.

Uma vez que Turner tinha algumas músicas das quais estava empolgado, ele pediu ao guitarrista Jamie Cook que voasse de Londres para conferir o que ele tinha pensado e adicionar a guitarra a algumas das gravações:

 

“Eu fiquei tipo de cara, ” diz Cook. “Eu nunca tinha visto ele tocar piano antes! Considerando que parecíamos como uma banda de guitarra, foi meio que um movimento ousado. Mas eu não acho que algum de nós queria fazer um AM-Parte Dois, então eu tava muito, muito empolgado no que ele proporia”.

 

Turner diz que ele tinha padecido alguns momentos de preocupação se seus colegas de banda embarcariam em onde ele tinha ido com a nova música, mas ele foi imediatamente tranquilizado pelo entusiasmo do Cook.

Tudo é ainda mais impressionante considerando que uma porção considerável do Tranquility Base Hotel & Casino foi gravado por Turner, sozinho em seu estúdio caseiro. Embora os Arctic Monkeys em certo momento foram ao La Frette Studios, fora de Paris, para trabalharem em partes adicionais, a maioria das músicas preservam camadas de Turner captadas em seu adorado Tascam 388 — um [gravador] vintage de 8 faixas, que ele diz que ama porque “te encoraja a trabalhar de uma forma que simplifica as coisas.” Ele tinha usado o Tascam enquanto estava trabalhando com a cantora-compositora Alexandra Savior como co-compositor e produtor no álbum de estréia dela, Belladona of Sadness, e aplicou um processo similar para Tranquility Base Hotel & Casino, criando o esqueleto em casa e então, mais tarde desenvolvendo-o em um estúdio real:

 

“Muitos dos vocais são daqui,” Turner aponta. “Tem alguma coisa na primeira vez que você faz uma coisa que você meio que não consegue melhorá-la. Quantas vezes eu eu fui pra cantar alguma coisa outra vez e não é a mesma coisa.”

 

A intimidade de sua voz, a maneira isenta de esforços que ele transforma substancial verborragia em uma cantoria caramelada, sua destreza com as astutas rimas internas — tudo coalesce-se com o ainda maior poder poético neste álbum.

Sempre incisivo em sua habilidade de alfinetar os vãos e insípidos, no Tranquility Base Hotel & Casino Turner engendra um reino do espaço-sideral onde a merda é ainda mais absurda. “Four Out Of Five” situa-se na cobertura de uma bem-cotada taqueria [restaurante de tacos] com Turner oferecendo este papo de vendedor:

 

“Cute new places keep on popping up around Clavius. It’s all getting gentrified.” Em “Golden Trunks”, ele imagina um presidente como um lutador de WWF dos anos 80 apaixonado pelo som de seu própria música-tema: “The leader of the free world reminds you of a wrestler wearing tight golden trunks.” A luxuosa e fúnebre “American Sports” descreve o tédio induzido pela tecnologia (“My virtual reality mask is stuck on ‘Parliament Brawl’ / Emergency battery pack just in time for my weekly chat with God on Videocall”) numa música que soluciona com Turner cantando, “And all of my most muscular regrets explode behind my eyes like American sports.”

 

Após Turner ter gravado tanto quanto podia em casa no seu Tascam, reconvocaram-se em La Frette em setembro de 2017 para passar cinco semanas gravando com seu produtor de longa-data James Ford. Uma estonteante mansão francesa do século XIX convertida em estúdio de gravação nos anos 80, La Frette hospedou discos nos últimos anos de Nick Cave e Feist, entre outros:

 

“É como a casa da família Adams quando você chega lá, indo pelos portões e este jardim coberto de mato,” diz Cook. “E aí está cheio desses equipamentos incríveis. Tem uma vibração definitiva naquele lugar. Estávamos realmente em casa lá, as cinco semanas em que estivemos lá. Eu diria que provavelmente foi uma das melhores sessões de gravação que já fizemos.”

 

Parte disse se deve ao fato de que, pela primeira vez enquanto faziam um disco, os Arctic Monkeys convidaram uma série de amigos para juntarem-se a eles no estúdio. O tecladista de turnê deles, Tom Rowley; James Righton do Klaxons; Zach Daves e Tyler Parkford da banda de Los Angeles, Mini Mansions; o baixista do Tame Impala, Cam Avery; a baterista Loren Humphries, entre outros, visitaram La Frette para contribuírem com o processo.

 

“Eu amo aquele álbum do Dion, Born To Be With You,” diz Turner. “Eu e Loren e James [Ford] conversamos muito a respeito de como eles gravaram aquele álbum, que foi como eles fizeram [Beach Boys] o Pet Sounds — com um monte de gente na sala, tudo espalhado pelos lados. Eu sempre pensei que seria legal tentar algo assim, e La Frette pareceu ser um ótimo lugar para se fazer isso.”

 

Tranquility Base Hotel & Casino sai no dia 11 de maio.

Fonte : Brooklyn Steel (Casa de shows em que os Arctic Monkeys tocarão dia 09/05/2018)

COMENTE!