Header

ARQUIVO: Primeira entrevista concedida à revista NME (2005)

 

Os Arctic Monkeys de Sheffield são a resposta de Noo Yorkshire¹ aos The Libertines e também a banda de 2005 dos shows imperdíveis. A última vez que eles tocaram em sua cidade natal, os consumidores percorreram 30 milhas só para lutarem por uma visão deles através da janela do show esgotado. Na primeira apresentação em Londres, o vocalista Alex Turner, esperando tocar para um salão vazio, terminou o show sendo carregado pela casa sobre um mar de mãos. E duas noites atrás em Nottingham, a NME não conseguiu ver a banda por trás de todas as pessoas pulando sobre o palco para tocar em seus heróis. “É incrível” diz o adolescente Paul Weller, parecido com Alex Turner.
“Eu me vejo perdido enquanto estou tocando e pensando, ‘Mas que porra?!” (Alex Turner).
Dois anos atrás apenas, os Arctic Monkeys – formado pelo baterista Matt Helders, o guitarrista Jamie ‘Cookie’ Cooke e o baixista Andy Nicholson – foram quatro amigos de escola comuns amantes do hip-hop, de saco cheio de White Magic (álcool de cereais de baixa qualidade², fãs de bebedeiras) nos abrigos de ônibus na hora do recreio. Agora eles são a maior banda desconhecida³ da nação. “Eu e o Cookey ganhamos guitarras de Natal naquele ano” Alex recorda. “Deu março e eu tinha aprendido só uns acordes mas ele já conseguia tocar o tema do Bond inteiro. Eu percebi que tinha que aperfeiçoar o meu jogo.” Alguns meses e ensaios intensivos depois, e os Arctic Monkeys perceberam que haviam pisado num campo de jogo completamente novo.
“Nós fizemos uma apresentação em Sheffield e logo que eu comecei a cantar, a multidão inteira cantou de volta pra mim,” Alex ruboriza. “Eu pensei, ‘Tá acontecendo alguma coisa aqui!’” Um trabalho pós-apresentação de um detetive revelou que um [CD] demo antigo da banda de três faixas recentemente tinha sido colocado no website deles, que começaram a distribuí-los em seus shows e havia se tornado assunto dos fóruns da internet por toda a indiedom [Reino indie] e que as músicas deles tinham sido trocadas por aí, mais rápido que um álbum vazado do Oasis.
Mas o ascender do, pessimamente nomeado, Monkeys — uma estória diz que eles foram batizados por um vagabundo depois de uma apresentação improvisada no meio de Sheffield numa noite – não é só mais um caso de adolescentes desesperados para tornarem-se mais uma bagaceira com guitarras de uma segunda vinda do Carl e Pete [The Libertines].
Lado a lado do brilhante barulho melódico deles, estão as letras do Alex refrescantemente livres de bobagens, tecendo sementes e contos hilários da vida de rua de Sheffield através da sua inteligência ‘Mike Skinner’ e do falar da cidadezinha. Pegue ‘Scummy’ [depois renomeada para When The Sun Goes Down], um conto obscuro da paisagem misteriosa da prostituição fora do espaço de ensaios deles em Neepsend (“So who’s that girl there? I wonder what wrong so that she had to roam the streets/She doesn’t do major credit cards – I doubt she does receipts”). Ou o single de estréia ‘Fake Tales Of San Francisco’, escrita quando Alex estava trabalhando na casa de show da sua região [The Boardwalk], silenciosamente observando os frescurentos da cena e os falsos rock’n’roll (“Yes I’m going to tell you all my problems/You’re not from New York City, you’re from Rotherham”).
“Venho escrevendo coisas desde a escola,” Alex admite. “Venho escrevendo há mais tempo do que meus amigos percebem. Você não conseguia ser criativo na escola, conseguia? Você tinha as coisas arrancadas de você. Mesmo quando a gente começou a banda, as letras eram uma área que a gente ficava com vergonha de falar e aí nós escrevemos umas merdas pra começar. Mas eu sempre anotava umas coisas em segredo e daí um dia eu falei, ‘Foda-se!’”
Agora não tem como segurá-los, nem mesmo os limites da cena de Yorkshire lideradas por Kaiser [Chiefs] e [The] Cribs.
“Eu não quero ser uma coisa de nicho, tipo: ‘Nós somos de Sheffield, então fodam-se os outros.’ Eu nunca compreendi essa atitude,” Alex franze o rosto. “É como o Roots Manuva disse, ‘Eu tenho amor pra cada uma daquelas cenas, mas os esteriótipos deles não eram nada pra me deter.’”
“E mais,” canaliza Matt, no final, “o Ricky Wilson Malandro (5) é simplesmente irritante.”
Impressionantemente, os ingressos para o headliner de estréia da turnê dos Arctic Monkeys já estão nas mãos dos cães infernais do eBay – e saindo substancialmente mais do que os emblemas de ‘Ricky Wilson é Deus’.
Descole uma grana e vá ver do que se trata esse fervo todo.

 

Nota
1 Noo Yorkshire: New Yorkshire. Grafia aludindo ao sotaque da região de Sheffield.
2 Álcool de cereais: Os jovens bebiam/cheiravam e ficavam chapados com esse álcool.
3 Embora a banda fizesse muito sucesso na internet e entre o público adolescente, ainda não era um fenônemo a nível nacional, o que alcançariam no ano seguinte.
4 Falar: No original, ‘jive’, dando o sentido de fala/modo ininteligível de se comunicar. Sotaque carregado.
5 Tricky Ricky Wilson, ou Ricky Wilson, vocalista do Kaiser Chiefs. Aqui Matt atribui a qualidade de malandro, enganador, ardiloso a ele.

Fonte: NME (29/10/2005)

COMENTE!