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ARTIGO: Jill Helders, “Mamãe Arctic”

Jill Helders: Mamãe Arctic

‘Lands End’. Fotos de 1976 e 1996.

Faça o que fizer mas não apresente esta mulher como ‘Mamãe Arctic’. Jill Helders é uma mulher que é mãe e esposa. Ela conversa conosco sobre as diferenças entre ser ‘mãe do Matt’ e a história interna por trás de um certo Monkey…
Jill Helders nasceu em Hillsborough, Sheffield. Casou-se com Clive e tem dois filhos, Gary e Matt. Matt é o baterista do Arctic Monkeys. Jill vive em High Green com seu esposo Clive. Seus dois filhos já voaram do ninho. Possivelmente, ela é referida como ‘mãe Arctic Monkeys’ mais vezes do que a seu nome verdadeiro, ‘Jill’.
Logo que você adentra a casa deles, você percebe o amor dela por sua família. Há retratos em todos os lugares e ela cria álbum de recortes de suas fotos, das férias de sua meninice à fotos de seus filhos. Uma das mais utilizadas e bem atrativas é a de Matt. Ele está com vinte poucos anos de batimentos cardíacos, este que é parte da banda que trouxe os holofotes de volta à Sheffield com singles como ‘Mardy Bum’ e ‘I Bet You Look Good On The Dance floor.’ Para Jill, é só o filho que ainda traz roupa suja e deixa o quarto uma bagunça.
A vida para esta mulher começou em Hillsborough…
“Eu fui à escola fundamental Malin Bridge¹; sempre fui a garota mais alta da escola com 1,57cm, mas então parei de crescer e todos os menores me passaram e continuei com a mesma altura. Então, mudei para a Myers Grove Comprehensive. Era uma escola nova quando eu estava lá, com 1.100 pupilos.”
Mas e quanto à Jill quando adolescente. Passara ela por aquele momento de angústia que vemos tantas adolescentes a passar agora?
“Eu não era particularmente quieta mas nem particularmente agitada.”
“Conheci Clive quando eu tinha 14 e ele com 17, no clube ponto de encontro de jovens, Path Finders, em Hillsborough. Eu acho que outras pessoas pensaram que eu era rebelde, mas eu não acho que era; minha mãe não me deixaria ser mesmo se eu quisesse. Eu nunca achei nada de estranho nisso. Olho pro passado agora e penso que se minhas sobrinhas saíssem com alguém e tivesse uma diferença de idade, eu ficaria bem preocupada. Minha mãe e meu pai não desgrudavam os olhos de mim, então era bem normal.”
Jill deixou a escola aos 16 e foi direto trabalhar…
“Fui direto trabalhar de solicitora³ em Sheffield. Caminhava pelas ruas de Sheffield entregando postagens que me mantinha em forma. Não havia uma postagem para seguir e progredir, então saí.”
Dali, Jill trabalhara pela cidade, incluindo o Hospital Infantil de Sheffield, Bancos Lloyds e progrediu ao ser secretária de finanças. “Não fiz nada de brilhante; tive trabalhos normais mas gostei muito do que fiz.”
Jill casou-se quando estava com 18 anos. 2009 testemunhará o casal a celebrar seu 31º anos juntos.
“Logo que casados, adquirimos uma casa em Hillsborough. Clive estava trabalhando para o seu pai em Crookes, que faz macacões e roupas de proteção. Todas as nossas cortinas e enxoval vieram de lá da fábrica, por isso, tivemos cortinas rosa brilhantes. De fato, muitas das minhas roupas eram feitas da fábrica, embora não fossem macacões!”
Então, quando a vida tornou Jill mãe?
“Não tínhamos nos decidido a ter um filho. Quando mais jovem, foi-me dito que eu não poderia ter filhos. Por isso, fiquei bastante surpresa quando descobri que estava grávida. Estávamos casados a quatro anos, não foi como se tivéssemos feito as coisas apressadamente. Gary nasceu 2 dias antes do meu 22º aniversário.”

QUATRO ANOS DE DIFERENÇA

“Trabalhei até o Gary nascer; não trabalhei por 18 meses depois dele ter nascido. Então eu consegui um emprego de meio-período trabalhando de agente mobiliária. O salário era uma merreca! O salário era tão ruim (£1.50 libras por hora). Tinha de trabalhar localmente. Era 75 pounds a babá, por hora, então metade do meu pagamento ia nisso. Ela era muito boa. Foi uma época divertida porque foi durante a Greve dos Mineiros(4) e o marido da babá era um dos mineiros. Ela estava com a grana curta porque seu marido não estava trabalhando; eu me lembro que eu estava sentada no ônibus conversando com Gary e eu lhe perguntei se ele tinha tido um bom dia e ele

Matt e Gary

disse, ‘Sim, mãe, eu estive na cozinha pública no meu almoço.’ Ele teve um monte de experiências durante aquela época, fazendo coisas que ele não tinha feito conosco. O marido dela tinha uma sotaque de Barnsley tão carregado que começou a nos contagiar!”
“Quatro anos depois que Matt nasceu, eu tive uma época maravilhosa longe de trabalhos. Eu tinha dois meninos, era complicado cuidar das crianças. Não comecei a trabalhar até que Matt estivesse com quatro/cinco anos de idade. Eu gostava de ficar em casa com os meninos. Quando seus filhos são pequenos, é ótimo passar um tempo com eles porque você nunca terá aquilo outra vez.”
“Nós somos uma família muito unida. Gary estava tão empolgado quando Matt nasceu, e vinculou-se muito rápido.”
“Quando Gary estava com 17 anos, ele não conseguia decidir-se no que fazer depois da faculdade, então ele foi morar nas Ilhas Cayman com minha cunhada e tirou um ano sabático. Ele virou instrutor de mergulho e o ano sabático continuou. Ele conheceu uma garota americana por lá e casaram-se três anos depois. Agora, eles vivem em St. Thomas e ele está com 27 agora [em 2009] e estudando na universidade. Como ele disse a si mesmo, agora ele está se aplicando! Se estou com sorte, vejo-o uma vez ao ano. Eu sinto uma falta terrível dele. Eu fui [lá] por uma semana em agosto de 2008 e não vou vê-lo até o Natal de 2009. Eu amo ligar para ele usando a internet, é tão em conta e podemos nos ver usando webcams. O quê, com o que a vida de Matt é agora, significa que os dois podem manter-se em contato também.”
Quanta responsabilidade os pais podem ter no gosto musical de Matt?

Matt e Gary, anos depois…

“Costumávamos tocar Motown. Eu lembro que um dos primeiros álbuns que costumávamos tocar era o álbum Bad, do Michael Jackson. Nós todos cantávamos juntos. Mas receio saber das outras coisas que tocávamos juntos.”

MONKEY EM PRODUÇÃO

“Matt tinha aulas de teclado no shopping Meadowhall. Compramos para ele um grande e ótimo teclado pois eles disseram, ‘Ah, ele precisa do mesmo teclado que ele tem nas aulas e isso o ajudará a passar nos exames.’ A boba aqui pagou £800 libras num teclado. Matthew passou num exame com facilidade e foi isso, nunca mais voltou. Tivemos esse teclado em vários lugares na casa e no fim, eu dei para a escola local.”
“Matt começou quando estava no colégio (ensino médio) e uma idéia começou entre ele e alguns rapazes: de que eles iam começar uma banda. Alguns dos rapazes tinham guitarras do Natal e aí, por volta daquela época, eles decidiram que Matt ia entrar. A única coisa que faltava era a bateria. Então, nós saímos e compramos um kit de bateria de £200 libras. Eles costumavam praticar aqui e Alex (Turner), que vive na outra rua, na garagem deles também.”


“Naquela época, eu e o Clive íamos juntos trabalhar num armazém com um mezanino em Wath, por isso eles deixavam o kit deles lá. Três noites por semana os levávamos lá para praticar. Nós só os deixávamos e apanhávamos eles horas depois. Se eles soubessem que estávamos lá, eles paravam na hora. Por isso, a gente tinha que esgueirar-se de forma muito silenciosa, aí poderíamos sentar e ouvir. Eles tocavam um monte de covers, tipo ‘The Strokes’. Mas metade do tempo eles ficavam jogando tênis de mesa.”
“Ele [Matt] deixou a escola e foi à Universidade Barnsley para estudar tecnologia da música e artes. Seu curso de obras de arte foi fotografia, que ele ainda ama, mesmo hoje. Mais ou menos naquela época que tinham deixado a faculdade eles começaram com a banda [Arctic] e começaram a ter apresentações, tais como ‘The Grapes’ e depois ‘The Boardwalk’. Aí, nós costumávamos ir para dar-lhes apoio, éramos os primeiros roadies(5)! Clive e eu os levávamos até terem um empresário. Muitas vezes éramos as únicas pessoas assistindo lá.”
“Assim que eram uma banda estabelecida, foi-nos dito o que costumava acontecer quando eu e Clive saíamos de férias. Os rapazes estavam com 17 anos e eles costumavam vir pra nossa casa enquanto estávamos fora. Eles colocavam o kit completo na sala de estar e praticavam. Se eles não se tornassem uma boa banda e se estabilizassem, os vizinhos reclamariam pelo barulho!”

AS DAMAS DA MESA REDONDA

“Eu conheci a mãe do Alex Turner quando nossos filhos foram juntos à escola primária. Foi só por eles estarem numa banda que nós saímos em férias de garotas juntas. Uma das amigas dela e também a mãe do Reverend and the Makers (John McClure), ‘a mãe Reverenda’, então ela foi com a gente também. Nós fomos no meu aniversário em janeiro.”
“Nós não contamos às pessoas quem nós somos. É estranho porque quando saímos com a banda e estamos atrás do palco, eu não sou apresentada como Jill: ‘Esta é a mãe do Matt.’ Você perde a sua persona, você não é ninguém além da mãe deles. Eu sei que crianças são assim, de qualquer forma. Crianças não apresentam seus pais como pessoas reais: ‘Essa é a minha mãe.’”

SENDO REALISTA

“Eu não conto a ninguém a menos que perguntem. As pessoas com quem trabalho na Universidade tendem a me apresentar como ‘Mamãe Arctic’, o que é bacana mas que vai se desgastando um pouco. Eu não estou lá como a mãe de alguém que está numa banda. Eles tendem a pensar que é uma coisa maior do que eu. Quando você está naquela situação, você não pensa a respeito de quem eles [banda] são. É só quando você ouve uma música no rádio e aí eu penso: ‘Ooh, é o meu filho.’ E é isso que faz a diferença.”
“As pessoas fora desta vida [artística], imaginam, que eles vão ser diferentes e não são. Eles ainda são meus meninos. Matt ainda vem pra casa com roupas sujas e por passar. Ele ainda deixa o seu quarto numa bagunça absoluta e eu ainda grito com ele. Eu acho sim que as pessoas pensam que ele vem pra casa e senta tipo como o [rapper] P. Diddy ou algo assim! Ele é só o Matt pra gente, não é outro além dele e nem os outros amigos da banda. Eles são os mesmos de sempre, eles vêm para casa e recebem o mesmo tratamento que sempre tiveram.”

OS GAROTOS ESTÃO BEM?

“Nós nunca tivemos um plano para eles, conquanto que eles estejam felizes e saudáveis e fazendo algo que sempre quiseram fazer e fazendo-o bem; isso é tudo o que pode-se pedir. Isso é tudo o que sempre quisemos.”
“Eles estão bem felizes e são sortudos de viver onde eles querem viver.” [Matt já tinha se mudado para os EUA].

Matt em férias

SÓ DOIS DE NÓS

“A casa está mais silenciosa agora, nós dois somos ocupados mas é estranho quando os garotos não estão aqui. Quando Gary volta para nos visitar, é como o [circo] Piccadilly, porque todos chegam para vê-lo. Eu sirvo comida, seu Bbq [barbecue, churrasco] enorme. Uma vez, tínhamos 27 pessoas na casa pro seu aniversário. Eles eram, assim, de todos os lugares.”
“Matt tem sua própria casa, então é diferente. Ele ainda meio que tem um quarto aqui – ele deixou um pouco de suas coisas lá. Se a banda está com turnê na Inglaterra, muitas vezes seus amigos também vão. Fica mais silencioso quando Matt volta pra casa [dele].”
“Tentamos estar em tantas apresentações que podemos. Sempre escolhemos os melhores lugares da Europa para ir, assim podemos fazer disso uma breve pausa.”
“Clive trabalha por tempo integral e eu meio período na universidade em Sheffield.”
Apesar de trabalhar meio período, Jill sempre tem algo para fazer, de encontrar amigos a ir à academia. Ela tem também um segredo escondido de criar livros de recortes de fotografias que ela tira para criar convites. “No momento, eu estou fazendo 80 convites de casamento para uma amiga.”
“Você tem um novo começo de vida quando seus filhos deixam a casa, você pode ou sentar-se na frente da TV e vegetar e envelhecer miseravelmente, ou pôr mãos à obra. Quando eu estava trabalhando e os meninos eram mais novos, eu sabia onde a minha mãe estava se eu precisasse dela para ser babá. Ela sempre esteve lá. Quando ela aposentou-se, eu não fazia idéia de onde ela tinha ido e agora, sou [só] eu e Clive. Agora, quando Gary e Matt tentam nos entender, eles ficam: ‘Onde vocês estavam?’”

Matt em seus pais

“A mesa vira quando seus meninos crescem. Você começa a ser um pouquinho mais rebelde e a fazer as coisas de uma forma diferente. Você começa a se recompor-se um pouco, você não fica constantemente pensando: “Eu preciso aprender isso. Eu preciso sair e fazer isto.”

 

Notas
1 Junior School: Na Inglaterra, dos 3 aos 10 anos.
2 Secondary School: dos 11 aos 16 anos.
3 Uma das duas classes de advogados na Inglaterra. Solicitor orienta e representa seus clientes em instâncias inferiores. Quando necessário, o solicitor indica um barrister (que lida com causas em tribunais e casos especializados). Tal contato com barrister é realizado somente por intermédio de um solicitor.
4 Greve dos Mineiros (1984-1985)
5 Roadie vem de Road (estrada) e se refere à pessoa que acompanha artistas e auxilia no carregamento de equipamentos e utensílios utilizados nos show.

 

Fonte: BBC UK (Data original: 25/02/2009)

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