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ARTIGO: Produzindo o Humbug (2009)

 

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EM EXATAS 24 HORAS, OS ARCTIC MONKEYS TERMINARÃO DE GRAVAR SEU TERCEIRO ÁLBUM…

E A BANDA irá colocar no tape suas notas finais — um B, caso esteja se perguntando — no lendário Eletric Lady Studios no coração da West Village de New York, sinalizando o fim de um disco que começou numa casa de campo Suffolk e foi de Sheffield, Los Angeles e Londres ao Deserto Mojave [Rancho de La Luna] antes de ter seu clímax aqui. Tem sido uma odisséia de oito meses na qual têm-se quatro caras a criar seu trabalho mais ambicioso e desafiante até o momento.
Mas essa nota final vai ter de esperar, pois nessa noite os Arctic Monkeys estarão saindo com P. Diddy. Uma noite de quinta-feira na Highline Ballroom poderia ser exatamente onde você esperaria encontrar a banda sheffieldiana — seu produtor de longa data está no palco com Simian Mobile Disco dando um banho de bipes maneiros e batidas eletrônicas nos hipsters de New York — mas a casa de show indie, menos maneira e sem sala VIP, não se parece realmente com o território costumeiro do Sean ‘Puffy’ Combs [P. Diddy].
Assim como a NME, o rapper magnata está aqui numa noite atipicamente quente de abril por causa dos Arctic Monkeys. Notavelmente, o que começou como uma chance de encontro entre Matt Helders, Ford e P. Diddy há algumas semanas na Winter Music Conference de Miami — “‘Busta Rhymes apenas me carregou nas costas’, foi provavelmente a melhor mensagem que Helders nos enviou aquela semana” sorri Alex Turner — tem-se tornado num completo bromance. Pelo menos da parte de Diddy.
“Eu o conheci em Miami e a gente foi à casa dele pra uma festa” explica Helders, que recentemente postou online um video-seqüência da tour na casa do P. Diddy. “Nós trocamos dígitos e foi indo. Ele me ligou lá em casa numa manhã. Eu tive que desligar o chuveiro e ir atender! Aí, nessa noite foi um pouquinho meio que ‘Me pergunto se ele está em New York’. Aí a próxima coisa que você sabe, é que ele ‘tá lá fora… próxima coisa que você sabe: é que ele ‘tá dentro. Não sei qualé a próxima coisa entre eu e ele!” Um convidado à vista para o Reading and Leads, talvez?
“Este artigo vai ser só sobre o Diddy agora” disse Alex inexpressivamente, com um sorriso irônico. “Só vai ter um ‘Ah, e tem um disco’ – bem no final.”

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Ah sim, há um disco e mesmo a babação de ovo do Diddy não pode tirar a atenção disso. Como convém de ser o álbum mais aguardado de 2009, a criação deste disco tem tido um quê de jornada épica. No entanto, você não precisa saber que fora gravado em ambas as costas da América ou que ambos Ford e Josh Homme revezaram turnos atrás da mesa [de edição] para perceber que tem algo de especial quanto a terceira demonstração dos Arctic Monkeys. Você só tem de olhar para a banda.
Passaram-se apenas quatro anos, repletos de ação, desde que a banda apareceu nestas páginas, mas a transformação — daqueles garotos nervosos com camisas polo para os personagens, trabalhando fora [de Sheffield] em New York hoje em dia — é imensa. Pondo de forma grosseira, eles parecem, agem, sentem — e mesmo mais altivos nestes dias — como que a última gangue de rock na cidade. Apenas dê uma olhada naqueles cabelos.
O guitarrista Jamie Cook podia anteriormente ter sentido um gostinho de ser um garoto bombadinho, mas um cabelo sedoso ondulante do Velho Testamento e uma barba mais madura cresceu no deserto; agora ele é a resposta de Yorkshire à Charlton Heston. Os folículos de Alex Turner¹ são igualmente impressionantes e durante os restritos dois dias da NME no estúdio, percebemos seu cabelo de cuia ficar selvagem, aparentemente em ação como que uma rota iluminada de sua cabeça. Quando calmo e ponderado, a cabeleira está perfeitamente para trás das orelhas. Quando está tocando, transforma-se num gigante e caótico ninho de passarinho; quando está ponderando os mais pequeninos detalhes durante a mixagem, ele o contorce e faz disso uma despedida tensa.
O baixista Nick O’Malley também ostenta uma juba estilosa, mas como sua trupe frenqüentemente o zoa de seu alter ego misterioso, Dessie Bell (a verdadeira natureza de quem, prometemos, emergiremos nas próximas semanas, mas eles clamam que ele assoma bastante ao longo do álbum), o que é mais impressionante é o quão integral ele se tornou. Ele pode ter entrado tarde na banda, mas agora é impossível imaginar a banda sem ele. Apenas Helders resistiu da tentação de aderir ao ‘visual do estúdio’, com seu cabelo curto e sacolas novinhas do American Apparel, porém ele tem outras preocupações, tais como os megastars do hip-hop perseguindo-o.
É, tem algo definitivamente diferente nos Monkeys; cá entre nós: eles na verdade parecem mesmo rockstars; e não tomem apenas a nossa palavra disso, peguem a de New York. Assim que a NME atinge as calçadas da cidade com a banda, eles dão de cara com Nikolai Fraiture, baixista do Strokes, que está comprando as comidas dele. Mãos são apertadas, números trocados, convites pra ir beber com os Strokes, a recém reunido em um line-up completo, são estendidos e a unção de Alex Turner, em companhia de seus herois, está completa.

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Entretanto, Puffy e The Strokes são só um embelezamento ao fim de um longo processo de gravação que começou muito antes deste girar de cabeça Neon Jungle² do que vocês possam imaginar. Por volta de oito meses atrás, o Arctic Monkeys deu início ao álbum-três numa casa de campo Suffolk. Logo após de a banda oficialmente gozar do hiato durante 2008 quando Turner tornara-se um Shadow Puppeteer, o quarteto começou, último Julho (2008), a trabalhar secretamente para lá do Latitude Festival.
“A gente realmente não tinha ensaiado seis meses antes daquilo,” recorda Turner que, apesar de aproveitar um pouquinho da noitada, acordado ante a aparição de Diddy no SMD, agora está parecendo notavelmente rejuvenescido quando a banda reuniu-se no Eletric Lady, na tarde seguinte. “Nós fomos pro Latitude, acabados, tava na nossa cara, e vez em quando escrevíamos umas músicas. Passamos o primeiro dia lá [trabalhando] no riff mais complicado que você já ouviu. Vai entre o tempo de sete e meio. Nós o usamos no final, ‘tá numa intro, mas foi complicado. Era tipo Sabbath. Devido que a última vez que a gente tocou juntos foi no fim de dois anos de tour, nós curtimos tocar mais agressivamente. A gente ficou pensando, ‘É, esse próximo disco vai ter que ser redondo’.
No ‘Favourite Worst Nightmare’ eles disseram que tinham sido influenciados pelo Queens of the Stone Age. Desta vez, Laurence Bell, o chefe da Domino, gravadora deles, os encorajou a se superarem e a procurarem Josh Homme em pessoa.
“Nós fizemos um show com o Queens em Houston, mas a primeira vez que a gente tinha conhecido eles foi na Bélgica ou algo assim,” explica Turner. “Ele se enfiou pelo camarim e entrou ‘(Voz Grave) Monkeys!’. Estávamos todos sentados lá, tocando violão, aí ‘(Adota uma voz de bacana) Oh, olá, eu gosto das suas músicas.’ Laurence disse que devíamos trabalhar com ele. Havia um quê de ‘Terceiro álbum, o que você faz?’ Monta um estúdio e aí (sarcasticamente) ‘É! Eu sei como fazer a porra de álbum, deixa eu te contar!’ ou você simplesmente pega as suas guitarras e vai pra Joshua Tree pra se pirar um pouquinho? A gente não tinha pensado que o Josh estaria de acordo, mas entramos em contato e partimos só com uma guitarra cada. Era aquilo que a gente queria, saindo bastante da situação que a gente ‘tava antes.”

Arctic MonkeysO sinal da partida do primeiro transatlântico do quarteto foi no último setembro. Puramente intencionado a ser um experimento, a banda passou 10 dias com Homme em seu estúdio em Los Angeles, Pink Duck, seguido por quatro dias nas profundezas do Deserto Mojave. Não somente fizeram o trabalho, mas quando o tempo expirou, imediatamente os Arctic Monkeys assinaram duas semanas extras no dezembro passado, renegando os confortos de LA para passar o tempo todo no esconderijo desértico de Homme.
“É quase como a casa de alguém,” explica Cookie do estúdio perto da Hospedaria Joshua Tree (O’Malley inclusive se ajeitou no Quarto Oito, onde Gram Parson infamemente teve uma overdose). “Um bengalô com um dormitório. É tão pequeno que havia amplificadores no banheiro. Não havia nada além de gravar, atirar com armas de pressão e fazer disparos.”
A banda admite que músicas tais como ‘Crying Lightning’ não poderiam evitar de sofrer mutação ao sol do deserto. Com as guitarras de faroeste spaghetti e os vocais sinistros porém assombrosos de Turner, você quase é capaz de ouvir o vasto horizonte do Mojave e certamente você consegue detectar as pegadas de Homme na sessão de ritmo esmagadora.
“Não foi como qualquer uma das nossas experiências anteriores (com um produtor),” diz Alex de Homme. “Ele usa analogias para descrever coisas.”
“É, ele sempre falava sobre um som de baixo, algo assim,” corta O’Malley, “e ele te dizia, ‘Eu quero que pareça como um garototinho gordo com chocolate na cara.”
Tão bem-sucedidas foram as sessões que a banda sugere que os esforços de Homme contabilizam cerca da metade do álbum — muito mais que a intenção original deles.
“Olhando assim, as pessoas provavelmente devem ter pensado que a gente tinha planejado ir pra lá só pra fazer o álbum,” diz Helders, “mas na verdade foi, ‘Vamos usar esses 10 dias e ver o que acontece.’ A gente nem mesmo sabia o que a gente conseguiria. Aconteceu de a gente fazer 12 músicas naquele espaço de tempo e poderia ter sido um álbum, mas a gente ‘tava um pouco acelerado nelas.”

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Em vez disso, seguindo a tarefa de tocar no festival Big Day Out em janeiro — três semanas prazerosas de “margaritas, sol escaldante e desmaios” — uma outra sessão de composição foi organizada logo após a banda ter presenciado o Shockwaves NME Awards. Desta vez não era apenas uma agressividade pós-tour que os dominava.
“Definitivamente foi uma melhor decisão acalmar os ânimos e descobrir o que queríamos que este álbum fosse,” declara Turner da decisão de trocar para as costas americanas e organizar as sessões de New York, que começaram em março. “Não [foi] de uma forma calculada, mas parecia que a coisa mais difícil ia ser tentar escrever umas boas músicas pop. Aquilo parecia ser mais uma incumbência do que só criar essa coisa agressiva. Fazer uma música pop e se virar com ela parecia mais atrativo do que só ‘RÁ! Eu vou te matar, sua vadia!’”. Não que o cover que a banda postou online [The View from… Rehearsal] do Poker Face da Lady Gaga fosse o esquema deles.
“Talvez nós não estávamos cientes disso na época, mas as coisas que tínhamos feito antes eram música pop,” clarifica o cantor. “É rock’n’roll pra caralho e tal, mas certamente tinha aquela emotividade… Talvez pop seja a palavra errada…”
“São músicas, cara!” exclama Cookie, que, embora quieto, freqüentemente prova-se o Monkey mais astuto. Quanto ao segundo produtor, bem, isso foi fácil.
“A gente nem precisou pedir pro James vir desta vez, ele meio que simplesmente apareceu,” brinca O’Malley, espiando o produtor circulando na sala de controle nas proximidades, tentando finalizar a gravação a tempo de tomar o trem para a apresentação do SMD [Simian Mobile Disco] na Filadélfia. “Nós abrimos um baú de voo [de equipamentos] e ele estava bem lá, lendo uma autobiografia do Phil Spector, polindo uma arma. Pensamos que seria melhor deixá-lo quieto.”
Fazendo o ciclo – de todos os dias do apartamento compartilhado deles no BMXs para os estúdios Mission do Brooklyn, a banda levou o total de faixas em consideração para o álbum até um número bem variado de 24. Entre elas está ‘The Secret Door’, que partilha de hipnótica qualidade de nomes como o de ‘505’ do último álbum, mas é infinitamente mais ampliada; ‘Jewellers Hands’, um molho de loucura ainda que intrincado, a qual eles dizem que foi influenciada pelos sons mais lentos do Dr. Dre; ‘Dangerous Animals’, que faz uma mistura de ritmos esmagadores e refrões matadores do material inicial da banda, com um toque mais atmosférico; ‘[My] Propeller’, cujos riffs sujos e bateria martelante acrescenta uma bravata inesperadamente intrépida ao vocais enamorados do Alex.

Arctic MonkeysE agora, atualmente sem título, uma 25ª faixa final está prestes a juntar-se a elas. Forçado a acrescentar esta última sessão após os compromissos de Ford da tour do SMD, significando tempo expirado no Brooklyn, a banda retornou à Manhattan para a última semana de abril. Escadas acima do Eletric Lady, Rich Costey (cujos trabalhos anteriores incluem Muse e Interpol) já está, aplicadamente, começando a mixar o álbum; mas abaixo, no estúdio A, é só ação. Pedestais de microfones estão dispostos por toda a sala, gravando cada um dos instrumentos em todos os ângulos, enquanto cobras coloridas de pluges sobre o chão ocasionalmente conectando em caixas de efeito marrons com nomes como Deluxe Memory Man ou Fender Bender. Dá à sala cavernosa — que antes hospedou nomes como Hendrix e Dylan — o sentimento de uma estranha floresta tropical metálica e plástica.
Abruptamente, e realmente sem muita fanfarra, aquele acorde B (Si maior) é tocado, a última virada de bateria é embalado, e o terceiro álbum do Arctic Monkeys está… bem… acabado.
“Realmente não há um clímax nesse jogo,”aconselha Helders enquanto a NME ajuda a banda a empacotar seus equipamentos em vários baús, cada qual com um brasão com um logo diferente, dos últimos anos, dos Arctic Monkeys. “Tem a masterização, suponho. Isso vai estar acabado no meu aniversário. Vamos comprar champanhe então!”
Há uma pausa de quinze minutos enquanto a faixa é renderizada por um engenheiro [de som], em seguida a banda é tratada com um playback ensurdecedor. Depois, com um tratamento celebratório, o tema Bond de Dura Duran, ‘A View To A Kill’ é também canalizado por todo o estúdio à pedido da banda — os mesmísimos auto-falantes que, por acaso, de onde pela primeira vez se ouviram ‘Back In Black’ do AC/DC.
“Faz de conta que isso é a gente, como se a gente tivesse acabado de terminar [o álbum]- ‘Ótimo break de batera, cara!’ declara um Alex Turner tonto enquanto ele dá um toque de mão com Helders como um perfeito yatch rocker³.
“Nós fizemos o segundo álbum muito rápido e tem um muitas partes que eu amo, mas foi como tentar verter um pouco do nosso amadurecimento, por isso a gente queria voltar rapidamente [ao estúdio],” mais tarde, Turner segreda acerca do progresso que ele sente que sua banda alcançou agora que o disco está finalizado. “Eu acho que isso foi necessário, mas a gente não tinha tirado um tempo pra estar preparado, enquanto que com esse nós já tínhamos aquela experiência. Definitivamente foi divertido demais fazer esse. Acabei de lembrar de uma bobagem!”

Arctic MonkeysO cantor está agora disposto a permanecer sozinho em New York para supervisionar a mixagem, tornar os títulos das músicas de trabalho em títulos definitivos e — via email com os companheiros de banda — definir exatamente quais das 14 faixas integrarão o álbum concluído.
Ah, e mencionamos que eles tiveram de fazer tudo isso na segunda [dia 24 de agosto] antes do festival Reading & Leeds? Isso porque os Arctic Monkeys queriam que você tivesse esse disco em mãos antes de fazer seu retorno completo no UK.
“Tem a gente, Kings Of Leon e Radiohead, então nós somos o garotinho lá,” explica Turner sobre a volta deles em agosto. “Ao tempo que é tipo, ‘Vão em frente, rapazes, não se preocupem, nós vamos tomar conta disso!’
A coisa sobre essa banda é que, como sempre, você simplesmente sabe que eles vão conseguir.

 

Notas:
1 Folícluos: nesse sentido: pele imberbe brotando pelos.
2 Neon Jungle: grupo feminino de R&B que tinham grandes cabelos encaracolados.
3 Yatch Rocker: refere-se ao movimento Yatch Rock.

 

Fonte: Scan da revista NME (22 de abril de 2009)

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