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ARQUIVO/ENTREVISTA: Jamie Cook comenta o processo criativo do AM

Entrevista concedida por Jamie Cook em 2014.

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Não deveria ser surpresa que o quinto álbum da banda, AM, recebeu ampla aclamação da crítica. Nós aqui da RVA Magazine, inclusive listamo-lo como número 15 na nossa lista Best Records Of 2013 [Melhores Discos de 2013]. O que foi surpreendente foi a inserção de um som R&B e Hip-hop à sua marca registrada do estilo garage-encontra-o-indie. Com um novo lado no seu som, a banda mostra que eles ainda têm tanto a oferecer quanto à época que eles fizeram seu primeiro hit na cenas de 2006.
Na terça-feira, 4 de Fevereiro [2014], os Arctic Monkeys fizeram sua estreia no The National. Antes que a banda começasse sua turnê Norte Americana no fim de Janeiro, o guitarrista Jamie Cook estava disponível para conversar conosco sobre o AM, em detalhes, assim como aonde irá a banda a partir daqui.

Então, AM saiu já faz algum tempo agora; em como você acha que ele se compara aos outros discos?
Não sei dizer. É difícil. Meio que tenho um lugarzinho pra todos eles, sabe? Mas esse, parece mesmo ter repercutido nas pessoas de uma forma maior, ‘tão, isso é ótimo. É bem complicado comparar disco com disco. Mesmo o nosso primeiro álbum tinha uma direção diferente. O processo todo de como nós fizemos este disco pra àquele; o primeiro é totalmente diferente. Banda totalmente diferente aliás?, suponho. Isso pode ser o do por quê de ser difícil de pôr os discos contra os outros. Quando nós gravamos o primeiro nunca estivéramos num estúdio, de verdade. Éramos mais em fazer performances ao vivo, pro disco. Para este último, muito dele foi escrito no estúdio e foi um processo muito mais longo que nos outros. Acredito que viemos de uma longa, longa estrada; por isso, isso deixa complicado comparar disco com disco.

Como você compararia os dois processos: compôr no estúdio versus live takes [tomadas ao vivo]?
Bom, essa é a primeira vez que escrevemos tanto no estúdio. Mesmo até que o Suck it and See; gravamos ele com tomadas ao vivo, no geral. Este álbum foi muito diferente. É o que mais levou tempo fazendo um álbum. Isso foi ótimo pra esse álbum, mas vai saber? Pode ser que a gente volte pro formato das live takes no próximo disco. Não foi ruim fazer isso no estúdio, mas foi definitivamente a primeira vez que pude ver como as pessoas poderiam acabar levando anos fazendo isso no estúdio. Eu nunca entendi como isso poderia acontecer por tanto tempo. Essa foi pra gente a primeira vez naquela mentalidade, tentando perfeicionar cada detalhe. Mesmo quando estávamos satisfeitos, tínhamos a mentalidade de “se tivéssemos mais uma semana, podíamos fazer isso ou aquilo.” Essa mentalidade pode ficar bem perigosa e fora de mão bem rápido; então, quem sabe o que vai acontecer no próximo disco?

Qual música levou mais tempo para estar perfeita para este disco?
Bom, para algumas delas, houve algumas versões das músicas circulando [entre os membros] antes que estabelecêssemos [uma] no produto final. “No. 1 Party Anthem” tinha algumas versões, cada com tempos [ritmos] diferentes e estilos, indo dum lado pro outro antes de “trancarmos” a versão do álbum e acertamos em cheio. Eu acho que “Why’d You Only Call Me When You’re High?” acabou num lugar diferente de que quando começou, também. Era um tanto mais rock antes de ter ficado mais R&B e Pop, parece. Aquelas duas músicas foram provavelmente as que gastamos mais tempo, mas não acho que levou muito tempo pras outras.

Agora, você mencionou “No. 1 Party Anthem”. É de fato uma ótima música, mas tão estilisticamente diferente de tudo o mais no disco. Diferente que qualquer coisa que vocês fizeram, sem dúvidas.
Sei o que quer dizer. Lembro-me de pensar isso quando estávamos escrevendo a música, mesmo até depois que ela tinha passado por diferentes versões. Gastamos um bom tempo discutindo se até se encaixaria no disco, mas era simplesmente uma música fantástica. Simplesmente tinha de ir pro disco, na minha opinião, mesmo e fosse estilisticamente diferente ou não.

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Do que mais você gosta no AM?
É claro, gosto muito de “Do I Wanna Know?”. Aquele foi o primeiro som que tínhamos já feito naquele estilo e realmente abria o álbum pra nós. Quando começamos a trabalhar nela, estávamos assim meio que pasmos. Tipo “Uau, não estamos mesmo fazendo algo como esse som ou estilo”. Era simplesmente muito empolgante e meio que abriu o caminho para o disco que o AM se tornou. Quando você começa um novo álbum, tem sempre uma música que te coloca numa certa direção e esta definitivamente foi uma dessas.

O que você acha a respeito da NME incluir o álbum em sua lista de 500 Maiores álbuns cerca de um mês depois do AM sair?
Eu nunca presto muita atenção em listas como essas, pra ser honesto. Quase não é justo perguntar qual é o melhor álbum, sabe? Foi obviamente muito bacana estar na lista da NME. Eu não sei se merecemos e ainda não entra na minha cabeça rankings de discos tipo esse, mas foi definitivamente bacana de ver.

Agora, como banda, a produção [rapidez] dos álbuns é bem impressionante. Cinco álbuns em sete anos. A maioria das bandas lança um álbum a cada três a quatro anos. Este é um esforço concentrado que vocês fazem?
Eu acho que não. Acho que vêm naturalmente. Nós gostamos de fazer o que fazemos. Gostamos de fazer discos e excursionar. Decididamente não é forçado e talvez iremos diminuir [a velocidade] conforme continuemos. Eu não sei, mas cada álbum têm a impressão de ser natural e orgânico.

É um desafio fazer cada disco diferente?
Não sei quanto a diferente. Mas como banda, você tem de achar um jeito de fazer acontecer nos novos equipamentos ou se esforçar mais. Eu acho que uma vez que você começa a ficar vidrado numa coisa, é impossível sair dela. Algumas bandas fazem isso e depois começa a parecer a mesma coisa, assim como entediante. Eu não acho que vamos tentar fazê-los soar diferentes, mas só experimentar e melhorar-nos a cada vez, sabendo que o disco vai soar diferente por causa disso.

Honestamente, onde é que vocês encontram tempo para fazer novos discos depois de excursionar tanto assim?
Quero dizer, não acho é aquele mistério, mas talvez seja. Não é como se apressássemos as coisas de qualquer jeito. Terminamos a tour ano passado depois de abrir [show] do The Black Keys durante um tempo. Naquele tempo, tínhamos algumas ideias surgindo que queríamos usar, então entramos em estúdio. Penso que gastamos muito tempo lá, mas acho que posso ver onde as pessoas pensam que tivemos uma reviravolta – que foi mais rápido que os outros [álbuns]. Quando estamos juntos, eu acho que as coisas simplesmente acontecem bem depressa, o que, eu acho, é uma boa coisa pra nós como banda.

Para encerrar: havia algo que você estava ouvindo enquanto gravavam o AM que o ajudou a definir o trabalho [de som] na sua guitarra no álbum?
Quer dizer, eu realmente acho que não, mas eu tava ouvindo muito os trabalhos do David Bowie quando estávamos gravando. Meio que revisitando o trabalho dele, especialmente Ziggy Stardust. Aquele álbum tem um som simplesmente incrível. Gosto muito dele, e quando você o examina bem, é sem nenhum defeito, na minha opinião. Pode ser que tenha me influenciado um pouquinho sobre em como nos expusemos nesse disco, perfeicionando cada detalhe. Eu realmente não tinha pensado nisso, mas eu amo mesmo aquele disco.

 

Data: 08/05/2014

Fonte: RVAMagazine

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