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Review : Q Magazine [Nota 5 de 5!]

CONTOS DO INESPERADO

 

Os Arctic entregam um sexto conjunto estranho, glacial e completamente brilhante.

Alex Turner recentemente revelou o dilema que sua banda encarou a respeito das demos que formaram a base do sexto álbum deles. O quarteto estava inseguro se aquelas músicas, compostas num piano de cauda no quarto de hóspedes do Turner, seriam mais adequadas a uma aventura solo ou a um novo material dos Arctic Monkeys. Vindo com esta curiosa, brilhante coleção de faixas não muito Arctic Monkeys, pode se transformar numa das melhores decisões que eles já tomaram.

O problema com grupos do tamanho do deles, bandas que tocam em arenas e headlines de festivais, é que muitas vezes acabam num beco-sem-saída criativo, paralisado pelo medo de que eles sejam os com álbum de fracasso, de tocar em casas de shows menores, descendo a escada de line-up, sendo deixados para trás pelas próximas grandes coisas do momento. É como as bandas acabam com hinos que se parecem exatamente com os seus hinos antigos, com músicas que você com certeza já ouviu antes.

Esse não é um problema para o Tranquility Base Hotel & Casino. Não poderia estar mais além do colossal de 2013, “AM”, onde a banda reequipou os seus coros indie-disco com um presunçoso rock de estádio. Não há nada aqui que você poderia imediatamente marcar de ouvido como single, e as primeiras ouvidas do álbum são marcantes principalmente pela falta de ganchos instantâneos. Mas o álbum muda suas engrenagens sutilmente e fica grudado em você. Em grande parte, gravado no La Frette Studios nos arredores de Paris e apresentando um grande número de músicos. Destes incluem-se o produtor James Ford, a baterista da turnê do Last Shadow Puppets, Loren Humphrey e o ex-cantor do Klaxons, James Righon, todos de quem dá a sensação de uma obra de conjunto de baixa pressão em vez de os acionistas de um grande álbum de rock que estão confiando nele para sua gratificação.

Há ecos do ato de cantor romântico de salão do Turner habitados nas falas por entre as músicas na AM Tour, todo piscadelas e insinuações, e as sacadas engraçadas de Clever Trevor que disfarça o fato de que estas são algumas das músicas mais pessoais do cantor. Na abridora oscilante e de dança lenta “Star Treatment”, com sua linha, “I just wanted to be one of The Strokes” [Eu só queria ser um dos Strokes] ele soa como se se transmitisse dos auto-falantes de sua mente. Os vocais agudos e claustrofóbicos na faixa-título, entrementes, lembra Outkast do Andre 300 no seu lado mais divertido.

Rolagem de linhas de baixo e uma sobreposição aérea de sintetizadores quentes dão às músicas uma leveza de toque. Nunca é um bombardeamento: não soa muito como se houvesse muito a acontecer, mas tenta chegar ao fundo disso e nossos ouvidos continuamente atingirão uma e outra parede sônica. É um álbum gotejante de referências modernas que poderia ter sido feito em qualquer momento ao longo das últimas décadas, um álbum retrô do futuro. A respeito disso, carrega uma semelhança com “There’s a Riot Goin’ On” do Sly & The Family Stone.

O álbum se move com seu ritmo glacial próprio e, para a sua finalidade, não tem apelo para aqueles procurando por uma nova “Do I Wanna Know?” para cantar junto. Seus melhores momentos revelam-se a si mesmos vagarosamente, tais como ‘Four Out Of Five’ transformando-se do preciso começo rítmico para um refrão florescente que soa como algo tirado do “Hunky Dory” do Bowie; ou os blues de bar de “American Sports” gentilmente deslizando para um final. É um álbum estranho e maravilhoso, um que quase parece como se os Arctic Monkeys tivessem embarcado em seu próprio projeto paralelo, de banda completa. O experimento funcionou. Daqui, eles podem ir a qualquer lugar.

Todas as apostas foram feitas. ✮ ✮ ✮ ✮ ✮

 

NIALL DOHERTY

Para ouvir:  Tranquility Base Hotel & Casino | Four Out Of Five  | American Sports | She Looks Like Fun

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