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Arctic Monkeys e o sucesso na América do Sul (Matéria traduzida da Pitchfork)

A revista americana Pitchfork trouxe esta semana uma matéria sobre a forte presença dos Arctic Monkeys na América Latina.

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“Como a classe média brasileira, o boom na telecomunicação, e a inclinação para o preto conspirou para fazer os Arctic Monkeys uma banda nível de estádio.

Na América do Sul, Arctic Monkeys são grandes a la Justin Bieber. Courtney Smith explica como isto aconteceu”

Leia a matéria traduzida (pela AMBR) na íntegra a seguir. (Texto original em inglês)


COMO A CLASSE, OS VÍDEOS E A ESTÉTICA GÓTICA FIZERAM OS ARCTIC MONKEYS GIGANTES NA AMÉRICA DO SUL

No ano passado, os Arctic Monkeys fizeram uma turnê na América do Sul – um lugar onde muitas bandas não podem se dar o luxo de visitar. Eles já tinham visitado o continente duas vezes antes da última turnê, que contava com seis datas, e pela primeira vez eles tocaram nas mesmas arenas que Miley Cyrus, Metallica, e Justin Bieber recentemente ocuparam.

Os alto custos de chegar lá e então resolver os meios de transporte, por muito tempo tem tornado turnês de rock pela América do Sul uma raridade, e com preços que apenas os maiores podem pagar. Mas uma interessante combinação de avanços econômicos e o interesse crescente do consumidor mudaram o cenário – e tornaram o continente uma importante fonte de receita para a indústria da música.

Os Arctic Monkeys cortejaram o público latino quando lançaram a atriz Stephanie Sigman em seu vídeo Snap Out Of It. Sigman, que também apareceu na série hoje cancelada “The Bridge”, tem uma grande presença na América Latina. Esse elenco é parte de uma linguagem cifrada que os Monkeys tem aproveitado para falar com a audiência latina.

Para promover seu álbum AM, o vocalista Alex Turner criou um personagem para suas performances, um homem com o cabelo penteado para trás remanescente do estilo rockabilly, que usa couro, explora a masculinidade e canta músicas altamente emocionais. A maioria das letras do álbum giram em torno de uma relação disfuncional. O professor de Literatura e Cultura Latino Americana Jason Borge, da Universidade do Texas, diz que a imagem do “dark, de escárnio, gótico e rebelde” tem seu apelo para os Latinos Americanos por toda a história desde o início do século 20. Mas os brasileiros, em particular, tem uma relação cultural única com esta banda e o rock em geral.

Quando os Arctic Monkeys tocaram no Brasil no Rio de Janeiro, a apresentação foi no HSBC Arena, onde os jogos olímpicos de 2016 de basquetebol também acontecerão. O local tem capacidade para 18 mil pessoas, mas esta fração, segundo Borges, é provável que consista de um grupo muito específico da sociedade Brasileira.

“Crianças [brasileiras] de classe média, pessoas jovens e intelectuais, a maioria brancos, estabeleceram credibilidade nas ruas através da absorção da cultura popular estrangeira” Borges explica “Isto os permite executar ou exibir uma rejeição do status quo; particularmente eles abraçam celebridades rebeldes de aparência como James Dean, Elvis ou Mick Jagger”

Melhorias na infraestrutura de telecomunicação, crescimento na venda de smartphones, e a inclusão de uma lei de neutralidade na internet adotada recentemente no país contribuiu para a popularização dos serviços de músicas digitais incluindo iTunes, Deezer, Spotify, Rdio e VEVO, todos lançados no país nos últimos três anos. Video clipes se tornaram uma ferramenta popular para a descoberta de novos artistas no Brasil, e de acordo com o advogado de entretenimento Martin F. Frascogna “o Brasil é um mercado muito visual. Muitas pessoas tem encontrado artistas internacionais através do YouTube e outras plataformas”, revela Frascogna. “Isso não é necessariamente o mesmo em outros mercados, como a Argentina ou México. Colocar conteúdo interessante no YouTube, juntamente com o novo recurso de gorgeta, que ainda não foi totalmente aceito na indústria, permitirá a artistas uma corrente de rendimento a mais em regiões particulares.”

Há poucos mercados desenvolvidos onde as vendas de download estão crescendo. Nos E.U.A o mercado decaiu em 2013 devido ao serviço de streaming que cresceu 39%. O Brasil, que conseguiu sua própria iTunes Store no final de 2011, é um dos poucos países capazes de gerar grande receita para um mercado em declínio para as gravadoras.


Muitas bandas de rock abaixo do nível do sucesso dos Arctic Monkeys não podem bancar turnês na América do Sul porque a distância entre as áreas metropolitanas requerem voos. Pequenos- médios rockstars enfrentam muitos problemas para realizar suas turnês por lá, mesmo que a demanda seja grande. Uma exceção a esta regra é Peter Murphy. Ele faz turnês pela América do Sul com frequência, tocando em lugares de porte médio, um pouco menor do que arenas esportivas mas maior do que um clube local. Em setembro de 2014, ele passou a semana tocando em seis shows por vários países da América do Sul.

A agente de Murphy, Joady Harper da Rocky Road Touring, disse que apesar dos lugares inusitados, fazer um show no Uruguai não é diferente de qualquer outro lugar no mundo. A única coisa que você precisa para as turnês na América do Sul, ela disse, é dinheiro.

“Todo mundo tem algum conto de terror sobre a América do Sul” Harper disse “Isso ainda não aconteceu a nós porque eu tenho alguém por lá que conhece as leis de lá. Isso me ajuda a eliminar muitos problemas. Eu também insisto em pagamento total logo de cara, uma semana antes de qualquer show. Em outro caso não tem show”

Harper explica que a economia volátil em vários países da América do Sul pode afetar o valor do dólar americano, a moeda que ela insisti que seus artistas sejam pagos. Quando a moeda local cai, promotores e locais, algumas vezes, encontram-se incapazes de pagar o acordo prévio para a garantia dos artistas.

Um refrão sobre a América do Sul é cantado por todos: que a audiência é incrivelmente animada, acompanhada por nenhum outro lugar do mundo. Antes da ultima turnê de Murphy, em Lima no Peru, um fã postou a hora de chegada do avião do Murphy em uma página do Facebook. Quando ele chegou, de 100 a 150 fãs gritando esperavam por ele, o tipo de cena que você espera ver do One Direction quando pisa em qualquer lugar do mundo.


Deixamos por último a questão da estética. E sobre os Arctic Monkeys e Peter Murphy se conectarem com os fãs latinos? (Obviamente não é por causa de seus sotaques). Um olhar superficial em seus catálogos, no entanto, mostra um tipo similar de apresentação. Suas vestes são um pouco mais formais que as outras bandas de rock. As músicas são sempre emocionais. Os vídeos são escuros e, por vezes, filmados em preto e branco. Poderia ser tão simples assim?

“De modo geral, a cultura jovem latino americana é mais formal” Borges explica “Outro interessante fenômeno a se dar uma olhada seria a teatralidade do rock chicano. Tem um estilo – o hip-hop com roupas largas – que é baseado no zoot suits. É a cultura mexicana-americana manifestada em Los Angeles e El Paso.”

A partir do momento que foi importado dos Estados Unidos para o México e, em seguida para além, o rock se conectou com a audiência latino americano. Os movimentos de dança sexualizadas de Elvis não chocaram ou escandalizaram a audiência latina tanto quanto chocou a americana. Eric Zolov aponta em seu livro, Refried Elvis, a falta de receio da cultura mexicana com a miscigenação no final da década de 50 e nos anos 60, comparado aos Estados Unidos. O que foi visto como o ramo da música negra para os americanos, já foi familiar pelos mexicanos, que foram criados em estreitos laços culturais com o Caribe e uma paixão pela música tropical.

Assim como a barreira da falta de acesso a internet decai, o acesso a tecnologia dos smartphones aumentam, a entrada viável do mercado de música digital e streaming se tornam uma realidade. A América Latina tem se tornado um solo fértil para descoberta da música – e os lucros. Um pequeno aumento continuo dos padrões de vida, no entanto, é necessário para garantir que o público de rock “dark, de escárnio, gótico e rebelde” seja uma realidade com espaço para crescer.


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