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Entrevista com Alex Turner : Por Dentro do Novo Álbum dos Arctic Monkeys!

Billboard

 

Por Dentro do Novo Álbum dos Arctic Monkeys :

Alex Turner Conta Porque Trocar a Guitarra pelo

Piano Resultou no Álbum Mais Ambicioso da Banda.

 

O vocalista do Arctic Monkeys, Alex Turner, está num espaço de ensaio com paredes escuras em Burbank, Califórnia. “Pouco antes de você ligar, eu estava desaparecendo em uma tela”, diz ele, falando devagar, escolhendo seus pensamentos.

 

“Os garotos estão juntos novamente tentando descobrir como tocar algumas dessas músicas do álbum novo,” ele diz com seu forte sotaque britânico. “Eu sinto que essa semana nós começamos a progredir em algumas partes. Você começa a se sentir como quando está de volta ao palco”

 

Faz quatro anos que os Arctic Monkeys não sobem juntos no palco. Os rockeiros britânicos lançaram seu álbum comercial mais bem sucedido, AM, em 2013, chegando no No. 6 da Billbord 200 e ganhando seu primeiro HOT 100 com a música “Do I Wanna Know?” (chegando ao No. 7 em 2014). Mas logo após disso, o quarteto – que inclui Matt Helders (bateria), Jamie Cook (guitarra) e Nick O’Malley (baixo) — surpreendentemente entrou em hiato, enquanto Turner voltava atenção para sua banda paralela com Miles Kane, The Last Shadow Puppets.

 

No dia 11 de Maio, os Arctic Monkeys estarão reunidos no seu sexto álbum, Tranquility Base Hotel + Casino (Domino), no qual Turner troca a guitarra por um piano Steinway e entrega composições cavernosas num fluxo de referências obscuras à Charles Buckowski e ao conceito de “Information-Action-Ratio” cunhado por Neil Postman*.

 

O piano foi um presente inesperado dado por um amigo em seu aniversário de 30 anos:

 

“Foi uma grande agitação, na real,” Turner recorda da surpresa. “Antes daquilo eu não estava tendo muitas ideias, e na minha memória, aquele foi o ponto em que elas começaram a surgir. Eu realmente acho que sentar no piano me motivou a escrever muitas dessas coisas.” Ele chegou num ponto de saber  exatamente onde iria cair com a guitarra. “Estar sentado no piano me levou diretamente para outro lugar,” ele diz. “Alguns acordes surgiram, meus dedos estavam caindo em lugares diferentes, e as melodias estavam me dando ideias. E o fato de que eu era o cara sentado no piano, também me deu ideias.”

 

O novo playground instrumental de Turner resultou no álbum mais ambicioso dos Arctic Monkeys até agora. O AM foi sonoramente diferente do Suck It and See, de 2011, e isso o encorajou a dar outra guinada. “Com o sucesso comercial do último álbum,” ele diz com uma pausa– tropeçando levemente nas palavras “sucesso comercial”, como se fosse uma frase bizarra — “Não acho que me senti pressionado no processo criativo. Mas havia pressão, então nós agilizamos e fizemos algo diferente de novo – tentando e voando alto.”

 

Os Arctic Monkeys vem voando alto desde o lançamento do seu primeiro álbum Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, de 2005, que se tornou o álbum de estréia mais vendido na história das paradas do Reino Unido após seu lançamento, e ganhou uma indicação ao Grammy de melhor álbum de música alternativa. Desde então disco após disco, Turner se estabeleceu como um letrista engenhoso que pode capturar cinematicamente um momento específico no tempo.

 

Nesse tempo todo, ele conseguiu voar relativamente abaixo do radar atento dos olhos do público, apenas aumentando o fascínio em qualquer coisa que ele tenha lançado. Turner não tem presença em mídias sociais fora dos posts promocionais e informativos da banda – “Vale a pena ficar de olho na tecnologia”, ele avisa – mas diz que se fosse para qualquer um dos aplicativos, ele provavelmente compartilharia apenas trechos de Bukowski.

 

A faixa de abertura do próximo álbum, “Star Treatment”, expõe o turbilhão interno que Turner sentiu após a chegada da banda: “Eu só queria ser um dos The Strokes, agora olhe para a bagunça que você me fez fazer”, ele canta. Então, não é surpresa que, após o sucesso de AM, Turner tenha se encontrado querendo redirecionar sua abordagem. As músicas que se seguem são tão completas, e cada palavra tão cuidadosamente selecionada, que a bagunça que ele canta dificilmente podem sequer ser levadas em consideração. Como resultado, a escrita em Tranquility é esclarecida e evoluiu a ponto de ocasionalmente exigir uma pesquisa no Google por contexto.

 

Em grande parte escrito em sua própria  “Superfície Lunar” – seu estúdio caseiro em Los Angeles nomeado em homenagem à teoria da conspiração do pouso forjado na lua – as letras têm cadência de poesia e incentivam anotações. Embora não seja especialmente fissurado em teorias da conspiração, ele gosta das “coisas da lua” e diz:

 

“Uma vez que comecei, era difícil colocar a tampa no dicionário de ficção científica novamente. Havia um filme [meus amigos e eu] estávamos assistindo chamado World On a Wire – é um filme de [Rainer Werner] Fassbinder – e isso foi definitivamente o que me empurrou para a borda, ‘Vamos escrever sobre outro mundo em para comentar sobre este. ‘”

 

O Tranquility traz crônicas sobre as várias observações de Turner: tecnologia e seu controle (“Batphone,” na qual ele canta sobre “ser sugado para um buraco através de um dispositivo portátil”), restaurantes mexicanos hipsters (“Four Out of Five”) e a recente política americana (“Golden Trunks” reimagina o “líder do mundo livre” como um “lutador de wrestler usando uma sunga dourada e apertada”), embora ele evite compartilhar abertamente sua opinião sobre qualquer coisa.

 

“No passado eu me esforçava muito pra tentar achar poesia [na política] e acredito que dessa vez eu encontrei uma forma, com algum encorajamento,” Turner diz. “Eu sempre achei que escrever qualquer coisa relacionada à política, tem a ver com a maneira que você encara a situação. É importante ter isso em mente para ser capaz de escrever sobre o poder de alusão e de sugestão.”

 

A letra mais concisa vem de cortesia na sonoridade sinistra de “She Looks Like Fun,” na qual Turner reconhece: “Não há limite no quão idiotas podemos ser.”

Por outro lado, tem a música título que soa mais esperançosa, a experimental “The World’s First Ever Monster Truck Front Flip” inspirada nos Beatles e a balada de encerramento “The Ultracheese.”

 

Turner gravou a maioria dos vocais em casa no seu Tascam 388, um gravador vintage de 8 faixas, mas as músicas ganharam vida quando a banda se reuniu na France’s La Frette, um estúdio construído numa mansão do século 19, onde seu produtor de longa data James Ford queria que as gravações acontecessem.

 

“Estávamos todos juntos pela primeira vez, e acho que o resultado disso foi uma energia vinda da banda, que não estava lá no início,” Turner recorda.

 

Enquanto estavam na La Frette, o grupo tentou canalizar a abordagem que Dion usou em Born to Be With You e dos Beach Boys em Pet Sounds:

 

“Acho que com o passar do tempo você aprende que [a mágica acontece] quando se tem várias pessoas na sala ao mesmo tempo e coisas começam a transbordar em todos os microfones,” diz Turner. “Nós tivemos um pouco disso nesse álbum, mas um dia eu gostaria de elevar isso ao máximo.” Turner aponta para “Four Out of Five” como um exemplo da influência de Born to Be With You.

 

Uma vez que o Tranquility estava pronto e Turner tinha retornado para sua Superfície Lunar, ele foi rápido em se desafiar num novo projeto: fazer o design da arte do novo álbum. Um visionário que põe as mãos em todos os aspectos do seu trabalho, ele sabia que queria espelhar, de alguma forma, o título do disco:

 

“Eu gostava da ideia de nomear [o álbum] em homenagem à algum lugar, porque para mim, discos pelos quais me apaixonei e continuo apaixonado, passam a sensação de que são lugares que você pode ir visitar por um tempo. Eu tenho muito a impressão de que se [Born to Be With You] fosse um lugar, eu teria me mudado para lá faz tempo.”

 

Para o nome do álbum, ele arrancou o lugar mencionado na futura faixa título, o fictício Tranquility Base Hotel and Casino, no qual ele canta sobre “Jesus num Day Spa preenchendo informações em um formulário,” porque “Naquela [frase] parecia o nome correto para essa família de músicas.” A partir daí, ele começou a pensar em modelos arquitetônicos e a esboçar ideias num pedaço de papel milimetrado.

 

“Eu gostei da ideia de um objeto de seis lados, porque é o nosso sexto disco,” ele relata. “Eu desenhei um hexágono, e achei que era uma ideia idiota, e dois meses depois eu fiz essa coisa girando em cima de um toca-fitas Revox. No meio disso tiveram muitas coisas que não podem ser consideradas trabalhos artísticos e eu fiz a maior bagunça. Mas agora tudo faz sentido. Para mim as capas dos álbuns antigos não representam o que está gravado, e eu com certeza não sinto isso com o novo disco. No fim, acho que eu até esqueci que existia um disco. Eu só fiquei obcecado por papelão.”

 

Com o álbum e o conceito de arte finalizados, a atenção de Turner agora está no retorno dos Monkeys aos palcos, com datas de turnê na Europa e na América do Norte, incluindo headlines principais nos festivais Lollapalooza e Firefly. Mas, como sempre, seu tom permanece neutro mesmo quando fala sobre a data de lançamento que está se aproximando.

 

“No geral estou ficando muito animado nesses últimos dias,” ele diz, aparentemente ciente do que está por vir. Mas e sobre colocar a banda toda debaixo desse guarda-chuva de novas sonoridades?! “Sinto que isso deveria ter acontecido antes.”

 

Nota :

*Neil Postman foi um dos mais importantes teóricos da comunicação nos Estados Unidos, boa parte de suas análises procuram fazer uma conexão entre mídia e educação, questionando as consequências da comunicação eletrônica, principalmente a televisão, sobre as crianças de hoje.

 

Fonte : Billboard

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