Espíritos, vocês estão aqui?

Uma nova façanha para um Alex reservado

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Cinco anos depois do brilhante álbum de rock AM, dois anos depois do Everything You’ve Come to Expect, gravado com Miles Kane no The Last Shadow Puppets… Um disco que flertou com as faixas mais canalhas do pop seiscentista e que anunciam, agora, Tranquility Base Hotel & Casino.
Fiel a seus bons hábitos, Alex Turner inspira-se no passado. No de seu respectivo grupo, mas também no da música moderna, de ambivalência global, para se tirar o máximo de sua história, apoiado sempre pelo seu fiel produtor James Ford. Serge Gainsbourg, Curtis Mayfield, John Carpenter, Scott Walker, Al Green, Prince, James Bond, T. Rex, Johnny Cash, Queen… Não podemos contar as referências porque elas estão misturadas, desviadas, relegadas ao molho de Turner, ao senso divertido de Sheffield exilado em Los Angeles, fascinante por sua transformação de lagarto à uma borboleta ao longo dos anos — doze, desde o primeiro dos Arctic Monkeys, Whatever People Say I’m Am, That’s What I’m Not.

“Talvez eu tenha sido um pouquinho selvagem demais nos anos 70”, canta em ‘Star Treatment’, como a um cantor romântico falsamente esquecido, um Alex Turner de 32 anos e com uma alma dos velhos Sioux. Com uma alma de texturas de Blaxsploitation¹, esta primeira peça anuncia uma das muitas cores de um disco caleidoscópio que sobrevoa hectares de terra bem-cultivados, oferecendo um prisma único, aquele anteriormente tratado com perfeição por François de Roubaix e Nino Rota. É de fato uma música cinematográfica que se está em questão, que não ilustra tão somente os riscos existenciais de Alex Turner, mas também a uma paisagem social de um Ocidente tão atraente quanto quimérico.

Embora o piano (convidado VIP do álbum) de ‘One Point Perspective’ lembre ‘Two Weeks’ de Grizzly Bear, ele não evolui para um folk orchestral mas sim para um tempo forte e lânguido, um adjetivo que de bom grado se presta às baladas retro divertidas que são ‘The World’s First Ever Monster Trunk Front Flip’, ‘Tranquility Base Hotel & Casino’, ‘Batphone’ ou ‘Golden Trunks’. Você vai estalar de dedos no baixo grave de ‘American Sports’ ou do de ‘Four Out of Five’, acompanhado pelo canto, modulado ao extremo, de uma forte demonstrativa de Turner. E quando ressoa a conclusão romântica eletro-pulsante ‘The Ultracheese’, pode-se afirmar: a operação sedução é um sucesso: em 100%.

Nota:
1 Movimento cinematográfico estadunidense dos anos 70, protagonizado por negros, onde seus filmes na sua maioria retratavam a exploração (exploitation) do negro (black). A maioria dos filmes se passam geralmente em locais de baixa renda e/ou subúrbios.