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ARQUIVO/ENTREVISTA: James Ford sobre a produção do ‘AM’ (2013)

Perto de ser um meio-Simian Mobile Disco, James Ford é o cara que você poderia — ao lado de Miles Kanes, eu acho — mais realisticamente chamar de o ‘Quinto Arctic Monkeys’ por conta de seu trabalho de estúdio com a banda desde 2006 (sem falar do The Last Shadow Puppets e da trilha sonora ‘Submarine’ do Alex Turner). Ao lado de Ross Orton, James co-produziu ‘AM’, novo álbum dos Monkeys, nos estúdios Sage & Sound de Los Angeles, algo do qual eu falei com ele para a capa da revista dessa semana. Ele tinha tanta coisa bacana para dizer, inclusive, que eu não poderia desperdiçar as coisas que não conseguíamos encaixar na revista. Então, aqui está o P&R (Pergunta e Resposta) completo, em toda a sua glória…

NME: Você pode me contar a respeito de desde o comecinho das sessões do ‘AM’? Qual foi a primeira conversa que você e a banda tiveram?

James Ford: Quando eles vieram primeiro a mim, eles estavam tipo, ‘Estamos pensando em gravar na nossa sala de ensaios’, e eu pensei, ‘Er… beleza’. Eu fui junto pro Sage & Sound, que está numa rua não muito glamourosa de Hollywood — praticamente tem um terreno de construção lá fora — e eu fui pra dentro e fiquei agradavelmente surpreso, por causa que em termos de gravação, é uma ótima sala. Parece ser muito boa. É toda de madeira com aqueles pilares e arquitetura gregos estranhos, levemente falsos. Eles estiveram acampados lá durante meses, antes mesmo de eu ter chegado, e eles tinham feito um monte de demos num desses [gravadores] quatro-faixas bem bostinhas dos anos 70. Eu sei que eles estavam muito focados no quatro-faixas, que tem uma considerável parte nele [álbum]. Nós acabamos usando um bom tanto delas [demos] no disco — as que estavam utilizáveis, tipo os vocais interessantes. Nós tentamos incorporar o máximo disso que pudemos. Sempre amei isso, porque a primeira vez que você grava uma coisa, ou a primeira vez que você tem uma idéia, muitas vezes tem uma magia nisso que é difícil de recriar. Sou bem chegado a usar isso o tanto quanto for possível. Acho que realmente influenciou na forma que eles ajuntaram as músicas.

NME: Alex Turner disse que ter aquele estúdio como um quartel-general da banda foi a chave de tudo— a primeira vez que eles estiveram naquela posição desde a criação do álbum de estréia.

James Ford: Eu acho que isso foi muito importante. Aquele estúdio era tão importante para eles e ficar de baderna lá foi bem daora. A rotina geral que a gente tentou fazer era das 11h às 20h, ou algo assim. Mas isso dependia demais do que estava acontecendo na hora. Antes, quando nós gravamos no passado, a gente ia à algum lugar, como um local residencial, e era só questão de gravar e acabou. Mas, por causa de que eles todos moram no LA, algum acabava fugindo e ia pra [lavanderia de] lavagem a seco numa manhã ou o que quer que seja. Foi na verdade bem de boa, o que foi ótimo. A gente pegava e dava uns rolês nas noites. Não foi uma situação de gravação muito estressante — foi bem dia-a-dia.

NME: Por outro lado, a banda nos disse que eles nunca mais querem ver o estúdio de novo ao fim disso. Estresse de isolamento?!

James Ford: Ha! Eles passaram tempo demais lá. A quantidade de tempo que eu passei lá foi só o de reunir o álbum nas fases posteriores. Eu apareci umas poucas vezes pra ouvir o que estava rolando, mas eles estavam lá dentro meses antes disso, ensaiando e compondo, fazendo zoeiras no quatro-faixas. Então, eu não estou surpreso de que eles estejam contentes em dar as costas a isso! Eu sei que eu ‘tava, e eu estive lá por somente cerca de um terço da quantidade de tempo que eles estiveram.

NME: Quanto tempo vocês estiveram lá, no total?

James Ford: Eu num sei. Jogando por baixo, provavelmente cerca de um mês, ou algo assim. Eles gastaram uma quantidade justa de tempo compondo, mas eu não sei se era tão intensivo quanto é quando você sai pra ir pra um estúdio. Eu acho que eles estavam fazendo as coisas aqui e acolá. Eles definitivamente estavam preparando-o já fazia um tempo.
Não havia instrução além a de fazer um álbum interessante. Obviamente que eu tinha visto as músicas quando demos, e eu acho que por volta da época de ‘R U Mine?’, eles tinham alcançado essa coisa de riffs lentos e pesados. Mas e aí, à esse hip-hop levemente estranho, esse leve senso de R&B à algumas melodias e estruturas. Havia um pouquinho disso lá. Sério, eles queriam só forçar a fazer algo diferente, e manterem-se seguindo em frente. Meu trabalho é realmente o de tentar a ajudar a trazer à tona suas idéias e destilar e cristalizar o que eles querem que seja, e ajudá-los a tentar conquistar isso. Tem um quê de Sabbath nisso também, mas obviamente é tudo filtrado através das composições do Alex e do tocar da banda.

NME: Os backing vocals podem chocar a alguns fãs — eles são abertamente de áreas do R&B.

James Ford: Há um take bastante diferente nos vocais. Tem muito de falsete do Alex, do Alex cantando num registro muito alto, que ele não tinha feito antes. Obviamente, ambos Matt e Nick são ótimos cantores também, por isso, Nick fez um monte de vocais oitava abaixo bem Outkast¹, enquanto que Matt fazia muito de [vocais] acima, coisas do tipo R. Kelly. Estávamos interessados em algumas idéias de produção vocal e, eu acho, na forma que os bons discos de R&B modernos soam. Eles têm muitas vezes um loop e batida muito simples, mas muito da dinâmica e da estrutura vêm dos vocais e em como eles se interagem e constroem-se. Isso definitivamente foi algo a que eles estavam interessado em explorar. Freqüentemente, no passado, tinha sido a voz do Alex na frente, e obviamente ainda o é amplamente, mas nós achamos interessante brincar com algumas outras vozes da banda.

 


NME: Qual foi o seu momento favorito ao gravar o álbum?

James Ford: Na verdade foi quando ‘Do I Wanna Know?’ surgiu; eu me lembro de pensar, ‘Isto resume o que estamos tentando fazer’. Pareceu-me meio que pesado — pesado em clima também. Tinha um peso disso nela que eu realmente tinha gostado. Eu me lembro de ter ficado muito empolgante quando ela surgiu, e de ver materializar o rumo diante de mim, um pouco de aonde íamos. Foi uma das primeiras que fizemos, e foi aquela coisa de se encaixar—eu pude ver o rumo daquele ponto em diante.

NME: Aquele riff foi escrito na guitarra Vox de 12 cordas do Alex, certo?

James Ford: Sim. Eu me lembro de quando compramos ela; eu tenho uma foto do Alex tocando ela, de quando nós fizemos o álbum anterior [‘Suck It And See’]. O Alex achou ela ao final daquele disco, e nós nunca tínhamos de fato usado ela nele. Mas eu me lembro dela perfeitamente bem, por que tinha esses efeitos já na guitarra e eu acho que na verdade ele a comprou um pouquinho que de zoação. Mas eu acho que ela na verdade se tornou um tanto que um instrumento inspirador. Um monte de riffs foram escritos nesta guitarra em particular.

NME: A bateria eletrônica em ‘I Wanna Be Yours’ é a primeira deles também…

James Ford: Isso mesmo, eu acho que sim. Essa que é a coisa — no último disco nós tentamos fazer um tipo de coisa de ‘banda de cômodo’, com quase nada de computadores utilizados. Tinha bastante coisa pra fazer tape. Mas neste, foi o caso de ‘todas as apostas foram jogadas’. A banda queria tentar coisas e fazer algo diferente. Então pra seguir em frente e fazer disso diferente, estávamos bastante abertos a utilizar batidas de teclados [de batidas geradas por computação] ou bateria eletrônica, ou o seja lá o que funcionasse para a música, na verdade. Obviamente que ainda tinha de conectar-se entre elas e parecer-se com eles, mas…

NME: …Não é como se eles tivessem ido dançar?

James Ford: É! Foi provavelmente o mesmo que o Suicide teria usado. Pra nós, não é como se eles tivessem ido de electropop! Não é um 808² ou qualquer coisa! É daquele tipo de era de quando as baterias eletrônicas foram inventadas como um acompanhamento para os keyboards. Como o tipo de coisa que pessoas velhas usam pra tocar em bares. Elas foram usadas em bandas de rock por um longo tempo — eu acho que conquanto que se faça do jeito certo, tá ótimo.

NME: Os vocais do Alex naquela batida rápida de ‘Arabella’ fica diferente do estilo normal dele…

James Ford: Eu acho que é ‘duplicado’ nesse ponto. Eu não sei se a gente realmente já fez aquilo antes. Ele canta ela muito alto mesmo, mas há dois dele. Meio que pareceu uma boa idéia — num modo Ozzy [Osbourne].

NME: Você vem produzindo a banda por anos já, e eles me disseram que não conseguiriam se ver nalgum momento sem que estivessem trabalhando com você. Como é sentir isso?

James Ford: Eu num sei. É meio estranho, porque ficou pra trás aquele momento de eu sentir que estou trabalhando com eles. É como se fôssemos amigos; e a gente pode sair juntos; e fazer música é algo que nós fazemos por diversão, algo assim. É um pouquinho do que eu faço com o Jas [Shaw, companheiro de banda do Simian Mobile Disco]. É algo que eu faria por uma risada! ‘Tão, eu num sei. Eu acho que provavelmente eles deveriam trabalhar com outras pessoas e pegar outras influências daí — eu acho que isso é muito saudável. Estou sempre disposto e ansioso para que outras pessoas se envolvam. Mas se eles sempre me chamarem, eu sempre atenderei pois eles são pessoas incríveis demais de se trabalhar, e eu os considero bons amigos.

 

Notas:
Outkast: banda de rap, integrada por Andre 3000 e Big Boi.
2 Bateria eletrônica Roland TR-808.

 

Fonte: NME

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