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ARTIGO: “Criar um disco do Arctic Monkeys não é uma alquimia fácil”, Alex Turner.

Artigo pelo site Uncut, disponibilizado aqui na sua versão integral.

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Cinco álbuns excelentes. Um discurso inflamado sobre o futuro do rock’n’roll. A América para conquistar. E agora, neste mês em Londres, seu maior show de todos… Teria vindo o momento para os ARCTIC MONKEYS ter seu lugar no panteão do rock? “Parece um desafio, não parece que tem um começo ou um fim nisso,” diz Alex Turner, enquanto Uncut entrevista a banda, seus colaboradores e seus heróis para descobrir os segredos de seu sucesso. “Eu os colocaria no mesmo nível de Ray Davies,” diz John Cooper Clarke. “É o mundo deles, mas fazem-no mágico.”
Em vez das muitas canções que escrevera, a poucos dias no início desse ano, Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys foi mais notório pelas 127 palavras que improvisara no púlpito dos vencedores em uma cerimônia de premiação. Seu tom—vanglorioso e pretensioso—não foi de bom gosto a todos. Mas tendo invadido a cidadela, seria grosseiro não permitir os Arctic Monkeys o momento de levantar sua bandeira.

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A fineza dos detalhes das palavras (“O Rock’n’roll… está sempre esperando bem ali… pronto para quebrar o teto de vidro”) tornou-se novos itens, foram desconstruídas, desaprovadas, tidos como um chamado às armas, mas amplamente ignoradas para o que elas representaram: uma declaração pessoal de crença. A “música de guitarra” provida pelos Arctic Monkeys não é uma decisão de gênero musical, mas um desafio, uma força de poder, uma forma cujas regras eles já dominavam: melhor quebrá-las e promover o espírito inefável do médium [Alex]. Pode mudar, e permutar, mas como Alex Turner salientou naquela noite, o rock’n’roll “nunca morrerá…”
“É o sentimento de que qualquer um pode fazê-lo,” diz Nick O’Malley, o baixista do grupo. “Não é controlado e polido. Anima-me que quatro amigos podem ter crescido na mesma vila, fazer uns barulhos na garagem de um amigo, ir ao Brit Awards e ganhar dois prêmios.”
Isso, em essência, tem sido a jornada do Actic Monkeys: do subúrbio de High Green (Sheffield) para o centro do estabelecimento dos negócios da música. Se essa tem sido uma jornada inesperada, tem também sido uma que a banda tem refletido em sua música. Em vez de seguir uma rota previsível, os Arctic Monkeys têm, ao invés, por uma década perseguido as excêntricas e enamoradas linhas investigativas que têm sido a força vital do rock’n’roll desde os tempos inaugurais.
O poeta John Cooper Clarke tem sido há longa data uma inspiração para Alex Turner, e uma versão da composição dele, “I Wanna Be Yours”, é a faixa final no álbum AM, o mais recente da banda. Como a maioria de nós, ele assistiu a cerimônia em casa.
“Achei maravilhoso seu discurso de agradecimento. Penso que foi a coisa mais lúcida que alguma vez já ouvi uma pessoa bêbada dizer,” diz Clarke poucos dias após. “Ele parafraseou Danny And The Juniors lá, não? ‘Rock’n’roll está aqui para ficar…’
“Foi correto em 1957,” Clarke acrescenta, “e o é agora.”
Dois dias após sua aparição no Brit Awards, Alex Turner sai em escolta de um jornalista (“Quero ter certeza de que ele vai…”, diz risonho); recusa-se a uma pausa para fumar e retornar a seu assento no bar/restaurante de um hotel suntuoso no centro de Londres. Cansado do voo (e assim como os outros membros de sua banda, agora estabelecido em Los Angeles), Turner está acordado desde as 5h buscando por motos vintages e enviando emails a seu sonoplasta sobre uma possível configuração de microfone (“Diagramas, um monte delas”). Ele está vestido de botas e jaqueta de motoqueiro, Ray-bans—para ameaçar a sociedade de 1961.
Ele fala de uma forma um pouco diferente de como você pode se lembrar. Se antes um blefador espirituoso, astuto e modesto, os dias atuais de Turner são temperados de um distanciamento irônico, que ocasionalmente o detém em seus trilhos. Seu recente discurso, em vez de um embaraço para ele, prova-se ser a ponta do iceberg, o plano de estabelecimento de um roteiro bem estruturado abordando as possibilidades de tudo o que representa sua música.
“Eu não me apresso em aceitar um troféu de uma corrida a que não sabia que estava correndo,” ele começa, “e agir como se fosse algo que eu sonhava desde que era um garotinho, porque esta não é a verdade.”
“Se essa é a verdade para você, tudo bem,” continua, “mas nem sempre tem sido assim—nesta caminhada considero que algum tipo de vitória se vem com a concepção de uma canção ou uma ideia, e não com um troféu ou palmadinhas nas costas.”
Rock’n’roll, como diz Turner, é Johnny Burnette. É Ike e Tina Turner. É Bowie e The Beatles. Mais do que nunca, música é o que ele descreve em seus termos filosóficos: definitivamente mais sobre a jornada, do que se chegar lá; mais sobre a caça, do que a captura. Tamanha é a natureza ardilosa do rock’n’roll; é algo no qual você precisa ter fé e estar atento a falsos ídolos. Turner fala demais, mas tudo o que diz por ele se têm no Arctic Monkeys.
“Atitude é parte disto,” diz o guitarrista Jamie Cook, “mas isso só pode te levar até um trecho.”
“Pessoas podem ter uma atitude rock’n’roll e nunca entrar numa banda,” salienta o baterista Matt Helders. “Você pode se vestir parecido.”
“É mais fácil dizer o que não é…” Turner continua, “…um corte de cabelo ou uma fivela de cinto. Nem mesmo ocorre a algumas pessoas que não há um rock’n’roll—então, eu dizendo isso, talvez dê uma luz a alguém. Um sinal em sua visão periférica. Você não consegue mapear isso para alguém.”

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Ciente desse ideal ardil, durante a última década os Arctic Monkeys seguiram seus instintos até os limites de seu próprio território demarcado, e isso os mudara. Antes um passeio maluco, uma pressa de informação; agora um show ao vivo do Arctic Monkeys se tornara uma série dramática e finamente harmônica de revelações, seus feitos medidos pelo seu conforto ao comando de uma grande plateia. Você muito provavelmente testemunhou seu equilíbrio no Glastonbury de 2013. Neste mês, eles tocarão em dois shows no Finsbury Park de Londres para 100,000 pessoas.
“Nós sempre tocamos nos limites de nossas habilidades,” explica Matt Helders. “Antigamente, fazíamos o que conseguíamos. No presente momento, nos sentimos mais confiantes de que podemos entreter as pessoas.”
“Dez anos atrás foi muito complicado,” diz Turner. “Foi energia pura. Mas conforme o tempo foi passando, fomos percebendo que você realmente não consegue imitar aquela energia, então tivemos que descobrir uma outra forma de contornar a isso.”
Essa forma tem se tornado mais ponderada e dramática. No centro disto, está o próprio Turner, agora um showman de feitos consideráveis. Não mais o vocalista acanhado de 2006 (este foi o alguém que abriu o primeiro video promocional apresentando aos telespectadores,“Don’t believe the hype…”), a persona de Turner é agora diversa, dependendo de quem seja, chamam-no de “mauricinho” (de acordo com Ross Orton, co-produtor do AM) ou “pretensioso” (produtor James Ford). “Ele é mais divertido assim,” diz Matt Helders. “Você não pode subir num palco diante de inúmeras pessoas sem se pôr no papel. Por outro lado, eu não seria capaz de agir assim. Falar na sua frente, sem um monte de músicas… Isso é quase meu o pior pesadelo. Eu não gosto de ser o centro das atenções.”
“Acho que muitas pessoas lhe dão corda em tentar ser um personagem ou o que seja, porque ele começou isso sorrateiramente como um nortenho convencido,” diz Nick O’Malley. “Acho que um monte de pessoas gostariam que ele continuasse fazendo isso. Agora, mas me aborreceria se ele estivesse tentando ser um Mr. Yorkshireman toda noite.”
“Pessoalmente, eu sempre gostei de vocalistas que pareciam ser de outro planeta,” diz O’Malley, “como David Bowie ou Nick Cave—é mais interessante assistir a isso do que alguém tentando ser eles. Acho que ele está ficando mais nisso—põem isso na performance e está maior em sua expressão. Dou todo apoio.”
Mudança tem tudo a ver com Arctic Monkeys. Como Turner explica, é o que ele admira em outros artistas (“The Beatles, David Bowie… os grandes”). Em tempo, o equilíbrio e drama de seus shows e a música atual não aconteceu da noite para o dia, mas é parte de seu DNA, a evolução gradual ao longos dos 10 anos. E sua jornada mal começou.
“Parece como uma busca,” diz Alex Turner. “Não sinto como se tivesse um início ou fim para isto.”
A distância percorrida pelos Arctic Monkeys pode ser expressada por seus gestos. Quando eles falam de seu debut, o clássico e carismático Whatever People Say I Am That’s What I’m Not de 2006, os membros da banda se inclinam para frente e retesam os ombros, como se naquele momento imitassem o dedilhar das guitarras agitadas do disco. Já AM de 2013, diz Turner, teve uma pegada com um floreio discreto, “é um pouco mais nesse sentido.”
Ao longo do caminho, o trabalho deles tomou voltas inesperadas. Apesar de todo o frenesi da mídia em volta de seu primeiro álbum (o então debut britânico mais rapidamente vendido de todos os tempos), o segundo disco da banda Favourite Worst Nightmare, de forma miraculosa não foi em todo sobre os negócios do ramo da música. Seu terceiro disco, Humbug, levou o indie rock deles para outro nível, devido a colaboração de Josh Homme. Seu registro atual, AM, abarca amplamente o que o produtor James Ford chama a banda, “love affair com a América”.
“Eles mudam, tentam coisas novas,” diz Richard Hawley, amigo da banda. “É isso o que eu gosto neles: eles não parecem ficar assustados. Tipo, ‘Ohh, aquele álbum foi nº1, seria melhor repetirmos a fórmula.’”
“Definitivamente estou tão assustado quanto qualquer um outro,” diz Alex Turner. “Mas, eu acho que se você tenta criar algo que acha que vai se encaixar no rádio ou outro meio, todo mundo vai prestar atenção nisso.”
Os Arctic Monkeys começaram com o pé direito. Quando Turner começou a compor, ele diz que sentiu que estava ‘mais maleável’, além de encorajado—particularmente, ele diz, por Jamie Cook a seguir sua ótica— e desde então a banda tem seguido a ela. Antes que ele se juntasse ao Arctic Monkeys, Nick O’Malley presenciou uma de suas primeiras apresentações. “Eu me lembro de ficar com ciúmes,” se recorda. “Esperávamos que eles não fossem tão bons: eles fizeram covers e algumas de músicas de sua autoria. Me lembro de pensar: ‘Merda, eles já são melhores que nós.’ Eles estavam dando muito duro.”
Mesmo naquele estágio inicial, a banda levava as coisas a sério. Richard Hawley relembra de tocar para uma plateia no Boardwalk em Sheffield com The Hillbilly Cats, banda rockabilly [gênero de rock e country (N.T.)] de seu pai, e de ser mais tarde interrogado por Turner e depois o barman da casa, em alguns momentos muito bons do show. O’Malley, que ia à escola com Turner, lembra que este levava uma certa seriedade artística em tudo.
“Eu estava na mesma sala de estudos da mídia que Matt e Alex, e quando eles trabalhavam juntos, eles tinham essa habilidade de fazer coisa boas. Eles costumavam se filmar, fazer coisas malucas, como Jackass [filme (N.T.)] quando tinham 17 anos. Eles sempre sabiam o que estavam fazendo: mesmo se fosse uma corrida de bicicleta, dardos ou música—eles tinham o jeito.”
Em sua música, e negócios afora isso, os Artic Monkeys aprenderam muito rápido. Alan Smyth, que gravou as primeiras demos da banda, lembra de em 2005 ver a banda outra vez, logo após a onda de interesse da mídia neles. Eles deram um olá do lado de fora de seu estúdio quando vieram para gravar uma B-side. “Demos apertos de mãos,” Smyth relembra.“Claramente eles apertaram várias mãos desde que nos vimos pela última vez.”


Entre a primeira sessão em setembro de 2003 até cinco de novembro de 2004, Smyth presenciou os Arctic Monkeys se desenvolverem do R’n’B alta-tensão de “Curtains Closed” para feitos como “Dancing Shoes” e “Fake Tales Of San Francisco”. Quando ele começou a trabalhar com a banda, eles nem ao menos podiam montar uma banda completa. Na época que ele terminou as sessões, ele estava trabalhando nas canções que apareceriam no clássico disco de estréia.
“Quando eles entraram no estúdio, ‘Cooky’ era um oleiro, ou estava treinando para ser um,” Smyth recorda. “Ele trabalhava até a tarde, então tínhamos de pô-lo mais tarde [no estúdio].”
O que Smyth (e Jim Abiss, o eventual produtor do álbum) gravaram foram músicas que pingavam de cores hiper-locais (“Fake Tales…”) menciona a cidadezinha de Rotherham, em Yorkshire, e os usos da expressão depreciativa “fucking wank” [punheteiro, tradução livre (N.T.)], mas criou uma imagem com grande fidelidade.
“Acho que é parte da tradição que veio na virada do século,” diz John Cooper Clarke. “Alex é um escritor de músicas populares, e essa é uma tradição longa e diversa. Eu o colocaria no mesmo nível que Ray Davies: eles cantam sobre o mundo que conhecem. Não a realidade dura ou a música folk, é o mundo deles, mas eles o tornam mágico. Eles o tornam interessante para alguém que não vive lá.”
“Aquele primeiro álbum poderia ter sido sobre qualquer cidade,” diz Nick O’Malley, “poderia ter sido sobre o fim de semana de qualquer um. Muitos podem dizer que se sentem como se essas experiências tivessem acontecido com elas.”
Músico, que se mudara do México para os Estados Unidos, que nascera no Chile e crescera em Geneva, Alain Johannes, engenheiro do ‘Humbug’ é um caso de bom teste para o contentamento de O’Malley. “Eu entendi perfeitamente,” diz Johannes. “A emoção disso, imaginando a vida noturna… É poético, mas das ruas. Tem algo na pronúncia do Alex: não há nada de ininteligível na intensidade do que ele está entregando.”
“Não é uma área específica,” diz John Cooper Clarke. “A palavra ‘Sheffield’ nunca aparece, e essa é a melhor coisa disso. Salvador Dalí diz, ‘Pelo ultra-local você atingirá o universal’, e ninguém o faz melhor que eles.”
Joshua Tree, na California, não é um local de muitos lugares. Gram Parsons se perderia aqui; ecologistas se reúnem com o meio ambiente e aventureiros psicodélicos colhem peiotes [pequeno cacto de propriedade alucinógenas (N.T.)] no deserto. “É quieto à noite,” Nick O’Malley se recorda, com afeto. “Exceto por todas aquelas pessoas fazendo rock às três da manhã.”
Joshua Tree é o local do Rancho De La Luna— um estúdio de gravação com fortes associações com a cena do “desert rock”, baseando-se no Queens Of The Stone Age, de Josh Homme. Não é correto dizer que está fora do mapa—tem um satélite de referência—mas certamente é um longo caminho de Sheffield.
“Foi uma questão de ‘sair de nossa zona de conforto,” hoje Turner reflete “ou fracassar.”
Os Arctic Monkeys vieram ao Rancho De La Luna para extender seu percurso. Com ‘Whatever People Say I Am…’ tendo a estabilização deles como cronistas românticos dos fins de semanas passados de uma nação, eles rapidamente prosseguiram com ‘Favourite Worst Nightmare’ (2007). Esse álbum (outro nº 1) foi, segundo o produtor James Ford, um em que a banda queria “sair do mesmo… provar que o primeiro não foi um acaso.”
Em vez de continuar na mesma viés rentável, Laurence Bell, o chefe da Domino Records, fez uma sugestão aos três. Se vocês são grande fãs de Queens Of The Stone Age: (“Nós tocamos uma música deles numa van,” Turner me disse em 2007. “Eles são a única coisa em que podemos concordar…”), por que não ir trabalhar com Josh Homme? Foi uma decisão condizente com uma banda de horizontes em expansão. Anteriormente estado a par das músicas atuais, Jamie Cook recorda o período de que “cavavam fundo” nos discos antigos. Ele esteve compenetrado no Creedence Clearwater Revival e no discos solo de Roky Erickson.
“Depois que você volta para o 13th Floor Elevators [banda (N.T.)],” ele recorda, “você descobre a história toda. Então você está naquele mundo ouvindo essas bandas. Nunca antes tinha ouvido música tão psicodélica. Por que eu ouviria? Eu tenho 20 anos e sou de Sheffield! Mas esse é mesmo um outro mundo—havia toneladas de coisas para ouvir.”
Tratando-se anteriormente em suma de entregar músicas, agora os Arctic Monkeys tiveram experiências com o sumo do mercado imersivo de como gravar um disco pode, não apenas ser ouvido, como também experienciado. O terceiro LP do Arctic Monkeys, Humbug, não é o favorito de todos, mas como as pessoas tem dito a Turner, é porque elas não se engajaram apropriadamente.
“Meu amigo Bill Ryder-Jones diz que uma pessoa que diz não gostar de Humbug é só mais uma daquelas coisas que as pessoas põem na cabeça,” diz Turner, “tipo, ‘Ringo [Star, músico britânico (N.T.)] não consegue tocar bateria,’ quando, na verdade, ele é incrível. Não estou dizendo que é incrível… mas tem seus méritos.”
O álbum proveu um momento eureka. Não que o pessoal no estúdio fossem do tipo que se encaixassem em gravadoras como aquela. “O Rancho tem uma vibe,” diz Alain Johannes, o guitarrista do Queens Of The Stone Age, que trabalhou no álbum ao lado de Josh Homme. “Tinha sempre uma energia incomum pairando. Totalmente o oposto de, entre aspas, um estúdio profissional: ‘O que é isso—tem certeza que é um microfone? Parece mais uma granada…’ Você pluga… e descobre se explode.”
O barato do Rancho é sobre abandonar a pré-concepção e sobre diluir os limites. “Quando Josh está produzindo, ele cinge-se dentro do paradigma,” explica Alain Johannes. “Quando artistas bacanas trabalham juntos, todos ficam com um pedacinho da perspectiva do outro internalizada—um tipo de coisa holográfica.”
Depois de ter feito discos apresentando músicas que foram trazidas ao estúdio numa forma quase-completa, com a orientação de Homme, os Arctic Monkeys acolheram uma abordagem mais instintiva. “Houve uma troca legal nos The Sonics,” recorda Johannes. “Às vezes, tocávamos coisas fora. Tem o parque [Joshua Tree National (N.T.)] fora, que é fantástico—você possivelmente não poderia ter um espaço mais morto.
“A coisa evoluiu organicamente,” continua. “Teve alguns que falaram nisso, mas tanto quanto eu estava preocupado, estávamos falando a respeito de algo depois que já tinha acontecido. Foi o tipo de coisa que fluiu bem. Foi uma tremenda diversão.”
“Josh nos fez acreditar em nós mesmo, sério,” diz Jamie Cook. “Ele tem um feitiço, ele consegue te persuadir a fazer as coisas. Nunca tínhamos feito rock lento e pesado. Foi um mundo diferente para nós. Não sei se teríamos ido nessa direção se não tivesse sido por Josh. Ele costumava nos dizer, “É mais difícil tocar devagar.”
“Depois do Favourite Worst Nightmare houve uma decisão consciente de não fazer a mesma coisa outra vez,” diz Nick O’Malley, “e Josh teve uma grande influência nisso. Quando estávamos gravando-o [Humbug], ele disse que não nos queria soando muito com o deserto. Ele estava preocupado que ele nos faria soar demais como o Queens [of the Stone Age]. Nós dissemos, ‘Ótimo!’ mas ele não estava convencido—ele sabia que era uma má ideia.”
“Eu achei seu terceiro álbum o seu mais corajoso,” diz James Ford, que “ajudou a finalizar” Humbug. “Eles eram grandes fãs de Josh, então fez sentido trabalhar com ele. Ajudou muito a definir a sonoridade do disco: guitarras sujas e tocadas em pé [suspensório da guitarra configurado para ficar na altura das pernas (N.T)]. É bem Morricone, uma pegada cinemática. Está na sonoridade e nas músicas. Foi o início do love affair deles com a América.”

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Por vezes é dito que na vida não é tanto da questão de onde você é, assim como de onde você está—no Rancho De La Luna, os Arctic Monkeys tinham começado a explorar completamente essa ideia.
“Dissemos: ‘Isso é muito estranho?’” diz Matt Helders. “Mas éramos constantemente tranquilizados por Josh: ‘Isto é você—isto é o Arctic Monkeys.’ Ele era o único que nos fazia acreditar nisso—seja o que fizemos, ainda sim nos fez soar como nós mesmos.”
“Eu me lembro de chegar lá, me sentindo o mais longe de casa que eu já senti,” Turner diz, “mas também muito em casa. Você começa a pensar no que as pessoas vão pensar. Mas tudo foi esquecido e fomos capazes de nos concentrarmos nele [álbum]…”
Para uma excursão reveladora, Alex usa uma frase de mente-aberta. “… As portas da percepção se abriram.”
Com sua banda, Alex me disse, é cheio de altos e baixos. “Tem altos e baixos como a um A e M,” ele disse, gesticulando fatos tipográficos. Subidas e descidas implicam uma viagem conturbada, mas para a banda que tão jovem tornara-se um fenômeno de sucesso, os Arctic Monkeys solicitamente acolheram o que se seguiu, evitando golpes e armadilhas. Têm tido uma boa gestão empresarial, todos concordam, e uma boa gravadora. A banda também é, como o companheiro da gravadora Bill Ryder-Jones diz, de “rapazes sensíveis”, mas como também recorda-se, “Você quer que ali tenha algo a mais que tão-somente rapazes de Sheffield…”
Realmente, no entanto, o promover compreendido (“sátira constantes” a qual vocês estão encorajados a ler) que acompanha essa amizade de longa data não deve ser superestimada. “Nós temos muito mais em comum que apenas a banda,”diz Matt Helders. “Depois de uma apresentação, a banda e o show serão provavelmente a última coisa a que conversaremos. Um de nós estará pensando em alguma coisa idiota de quando éramos novos. Como, ‘Lembra quando Chris caiu de sua bicicleta?’ É mais que apenas trabalho.”
“Isso deve ter simplificado as coisas de como éramos amigos,” diz Nick O’Malley. “Você ouve falar sobre vocalistas que são divas e nem mesmo são aquele sucesso— então é refrescante que temos sucesso e Al [Turner] não é um pesadelo.”
“Todos eles estão cientes do absurdo disso tudo,” diz Bill Ryder-Jones. “É sobre beber Boddingtons e assistir Wednesday [banda] tocar com eles. Brincadeira— mas eu nunca tinha visto algum deles comer houmous [alimento da culinária árabe (N.T.)], nunca.”
“Eles não foram formados do que, a exemplo, um anúncio publicitário de bandas gostaria,” diz John Cooper Clarke. “Eles não parecem ser parte de qualquer tribo juvenil em predominância, algo como que The Beatles e The Kinks foram, na verdade. Acho que os Arctic Monkeys caíram nisso. Está estruturado neles. Eles não podiam seguir uma tendência, se quisessem. Você só pode mijar com o ‘equipamento’ que você tem.”
Esse tipo de estudo estrutural tem lhes servido nesses 10 anos, e parece provável no futuro. A banda não tem planos a longo prazo (“É nebuloso lá fora,” diz Turner. “Talvez eu vá fazer mobiliários…”), mas os exemplos de David Bowie, Nick Cave e The Stooges são inspiradores em como uma carreira longa pode ser interessantemente conduzida. No Glastonbury do ano passado, a banda assistiu aos The Rolling Stones. “Você ouve todas essas estórias, mas eles pareciam estar se divertindo muito,” Jamie Cookie relembra. “Teve um buzz apropriado. Tinha que ter visto aquilo!”

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Em vez de subida e descida, a carreira a banda desde Humbug tem sido sobre o movimento de um lado a outro. Alex fizera com James Ford um registro solo contido para a trilha sonora do filme Submarine, de Richard Ayoade, e a banda acolheu aquela sonoridade mais simples de indie-rock clássico britânico para seu álbum seguinte, Suck It And See (2011), como Nick O’Malley recorda-se, também como resposta ao interesse ressurgido em The Stone Roses e The Pixies.
Com seu mais recente álbum, AM, a banda tem feito algo diferente novamente. Se seus movimentos são tão perversos quanto eles, às vezes aparenta-se uma questão diferente.
“Parece errático para mim,” diz Turner, “mas eu acho que a maioria das pessoas que mudam, não registram-se tão dramaticamente.”
“Há vibes diferentes nos álbuns,” diz James Ford. “Consigo ver porquê as pessoas pensariam que eles estão diferentes. Mas para mim, a escrita e voz de Turner são tão definitivos, eles podem fazer quase tudo nesse momento e ainda soarão consigo.”
À seu modo modesto, Turner apoia a ótica de James Ford. “Com este novo [disco], nos perguntamos, ‘fomos longe demais?’ Soa demais com Dr. Dre ou algo similar? Então você toca-o para alguém e nem mesmo prestariam atenção a isso. Mas podem nos dizê-lo…” Ele parece procurar as palavras certas. “assim que começo a perguntar.”
AM confirma precisamente o que ele e Ford estão dizendo. Esta é uma banda de identidade forte, eles podem pôr uma grande quantidade dela em sua música e ainda sim soariam como os Arctic Monkeys. Nick O’Malley, sem hesitar, rememora da banda querendo evitar “a mesma conversa de indie antigo”. Se um registro que ocasionalmente soa como Justin Timberlake à frente do Black Sabbath e a outros como John Lennon, o que pode ser dito algo a evitar, então eles certamente conseguiram.
A revelação veio para com a banda no deserto. Trabalhando novamente no Rancho De La Luna, mas desta vez com o engenheiro [de som] / baterista Ross Orton, a banda trabalhou em canções que deram o tom para o todo do álbum: o riff-pesado que abriu as faixas “Do I Wanna Know?” e “R U Mine?” (primeiro como demo no estúdio de Orton em Sheffield). Turner recorda-se que “Do I Wanna Know?” foi um avanço em particular.
“Ouvindo a ela, aquela noite no deserto, foi um momento vitorioso. Nós todos estávamos dançando. Isso é o que importa para mim.”
“Em nada soava com algo que algum de nós tivesse se envolvido antes,” recorda-se Ross Orton. “Dissemos, ‘Puta merda, isso é muito bom.’”
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Com a vitoriosa viagem ao deserto detrás de si, a banda retornou a LA. Tendo ido a busco de uma sala de ensaio nas proximidades de seus lares, terminaram encontrando o estúdio “B” do Sage & Sound, um oportuno Sunset Strip que já vira dias melhores; dias esses foram os anos 1970. Houve, recorda-se Elvis Costello, baterista do Pete Thomas, que tocou nas sessões por duas semanas, “abundância de mato e juta [erva lenhosa (N.T.)]”. Foi como algo tirado do Boogie Nights [filme de comédia, 1997 (N.T.)],” lembra James Ford. “Tinha um pilar grego falso.”
Não obstante a decoração, o espaço provou-se ser o pivô para o novo trabalho da banda. Tendo incluído um engenheiro de New York para solucionar questões técnicas, tornou-se evidente que o estúdio serviria não tão-somente para gravar o álbum, mas para compor e produzir demos. Escrever loops [repetições], depois over-dubar¹, ele chegaram a uma declaração eloqüente e simples de suas vidas de residentes americanos: um heavy-rock conciso, provendo o som de plano de fundo pelos vocais falsetto de estilo R&B. Foi um risco diligente.
“Podia ter sido terrível,” diz Matt Hellders. “Podia acabar parecendo o Limp Bizkit [banda, que não se leva a sério (N.T.)].”
“Não é uma alquimia fácil,” Alex Turner confessa. “Parece como se em todos os discos que já fizemos, tem um momento em que tudo parece uma completa bagunça, desconectado. James Ford sempre me acalma. Eu sei que todas as bandas, desde a aurora do tempo pensam assim, mas parecia diferente quando estávamos fazendo-os.”
“Os ganchos [musicais] eram bem R&B,” diz Nick O’Malley, “que são um pouco mais facilmente absorvidos na América do que aconteceria tratando-se de clubes de bikes em Sheffield ou o que seja. Alex é o mesmo cara, ele só não está tendo mais esses fins de semana em Sheffield.”
“Você faz um tipo de música que reflita onde você está no momento,” diz Ross Orton. “Se eles tivessem ficado aqui em Sheffield, talvez teria sido o 10º ‘R U Mine?’. O que não teria sido uma coisa ruim, mas teria sido uma coisa diferente — um tipo de coisa mais rock e mais pesada. Não teria sido tão astuto.”
Quando Matt Helders machucara sua mão nos estágios iniciais da composição do LP, o baterista do Attractions, Pete Thomas, ocupou sua função por poucas semanas enquanto a banda continuava a trabalhar nas demos.
“É um grupo adequado com um estilo adequado,“ diz Pete. “Lembrou-me também um pouco de nós [banda], dos nossos primeiros álbuns — em muitas partes. É muito civilizado. Eles sentam-se próximo, e tipo, ‘O que vocês acham, então?’ ‘Duplicarei aquilo na guitarra?’ ‘Vamos botar pra arrebentar com isso, então…’ Eles tem a mim para o trabalho duro. Eles trabalham nele, depois gravam e vão ouvir. Não há trapaça. Eles entram, tomam um chá, trabalham e de repente está ótimo. Alex sai de sua própria cabeça ao compor: ele é como Elvis. Ele apenas retira do ar.”

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AM é um registro espetacular de onde os Arctic Monkeys estão agora, nasceu de uma ambiente contraditório: concebido em Sheffield, criado no deserto, nascido em LA. É um disco de hard-rock vangloriando a incerteza emocional; uma série de declarações ousadas e eloqüentes sobre áreas cinzentas da intimidade. À busco por contentamento, Alex Turner decide, não é diferente da busca por boa música. Prossegue. “Nunca está resolvido, está?” ele diz. “Você olha para isto, mas realmente não sabe aonde você está indo procurá-la. Mas eu tenho uma reverência a este processo, essa caminhada. Não como algumas bobagens do tipo: ‘Quero pôr coisas bonitas no mundo’. Mas há algo disto, sabe, o jeito que ‘Happiness Is A Warm Gun’ mexe com você. Lembro-me de ouvir The Beach Boys num carro, ouvindo aquelas harmonias. Te deixa meio pra baixo, de alguma forma.”
“É o que meu pai me dizia sobre a música: é sobre sentimentos,” Turner diz. “Há um conjunto de regras que você pode seguir. Mas, ao fim do dia, você tem de senti-las em sua alma.”

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Nota
1 Overdub: Quando trechos de instrumentos ou voz são gravados sobre uma faixa já existente, como um acréscimo, polir o som ou consertar possíveis problemas.

 

Data: 05/02/2016

Fonte: Uncut

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