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ENTREVISTA: Alex fala sobre fantasias, sonoridade do EYCTE e criação de músicas

Entrevista feita por Kasia Gawęska, do site polonês Musyca logo após a apresentação dos Puppets no Open’er Festival.

Open'er Festival 01

O dueto de vocês é comparável ao de John Lennon e Paul McCartney, de Steven Tyler e Joe Perry. Vamos então começar dos complementos — do que vocês mais gostam no trabalho em equipe?

Miles Kane: Eu acho que, não seria nenhuma surpresa se eu dissesse que graças ao Alex que cada música nossa é tão refinada — ninguém mais as faz melhor. Graças a ele estou tentando sair de meus próprios limites e, pra ser honesto, eu não estaria tão ansioso a fazê-las sem o Alex. Suponho que nós dois podíamos dizer que isto é por causa de nossa cooperação. Nós simplesmente entendemos em qual direção criativa cada um está indo. É difícil de explicar, porque não precisamos de palavras para saber o que estamos pensando, em qual melodia cada um está trabalhando, que música ele ‘tá tentando fazer — seja alegre ou triste. Eu não sei como isso funciona — é como um tipo de química entre a gente.

Miles, quão diferente é um trabalho seu de carreira solo para um dos Arctic Monkeys?

Miles Kane: Quando estou trabalhando sozinho fico triste, porque me transformo num menininho assustado.

Alex Turner: Quando trabalhamos nos discos do The Last Shadow Puppets, nós não sabemos quem vai cantar cada parte. E por causa disso, certamente temos de mudar nossa forma de compor, como se isso já não dissesse como vai funcionar. É mais fácil pra mim compor uma música focando em mim — estou fazendo uma certa letra, melodia e sei que vou cantá-la, logo já estou ciente de minhas possibilidades. O jeito que o Miles toca guitarra me deixa muito excitado — sua música me leva a um mundo completamente novo. Quando desaparece, leva essa euforia junto. Isso pode parecer como se trabalhar com o AM não me desse qualquer satisfação — quero elucidar que não é isso. Com Miles é só… diferente.

Kasia Gaweska, Miles e Alex.

No centro, Kasia Gawęska, a entrevistadora.

Miles Kane: Me lembro de uma vez que o Alex veio a mim e disse “Eu quero ver como você cospe enquanto canta: sick puppy ” em Bad Habits. Mais tarde, eu chamei ele de demente.

Alex Turner: É…

Miles Kane: Mas ele ‘tava certo. Ninguém mais me diria algo assim; foi lindo.

Alex Turner: Viu, Kasia?, é só eu contar minhas fantasias a Miles que ele tenta realizá-las, mesmo quando elas são bem pervertidas, como nesse caso.

Alex, você acabou de me esclarecer o porquê de seus fãs suspeitarem de um romance de vocês. Vocês são muito próximos um com o outro, mas um artista precisa de um pouquinho mais de espaço e liberdade pra criar, certo?

Miles Kane: Enquanto fazíamos este disco, nós nos demos muito espaço. EYCTE é a última música que escrevemos. Foi criado de outros pedaços inacabados. Era pra ser centenas de músicas diferentes, mas nós fizemos em uma. Antes que eu fosse ao estúdio, Alex me enviou uma demo na qual ele tocava instrumentos e depois ele acrescentou letras diferentes. Foi assim que saiu e é um grande exemplo que Alex tem muito espaço. Quando nós tocamos essa música, eu senti como se eu nunca a tivesse ouvido, o que obviamente não era verdade. Eu estava ouvindo a mesma coisa como antes, mas de uma forma completamente diferente. E por causa disso, comecei a me sentir animado outra vez.

“EYCTE” é também o título do álbum de vocês. Vocês deram a seus fãs o que eles esperavam?

Alex Turner: Definitivamente! Nós o escondemos atrás de uma cortina vermelha e embaixo dele está tudo o que eles queriam.

E qual foi a expectativa de vocês por este disco?

Miles Kane: Tentamos trazer algum frescor no nosso trabalho. Queríamos fazer deste álbum diferente do anterior. De certa forma, resolvemos superar e decidimos não forçar as coisas. Este sou eu e o Alex, e é assim como somos e não queremos mudar. E acho que nos saímos muito bem.

A capa do álbum também se saiu muito bem. Quando as pessoas a veem, elas querem dar uma ouvida.

Alex Turner: Eu acho que quando um artista decide pôr algo na capa do álbum ou seu encarte, eles o fazem com intenção de mostrar aos ouvintes exatamente o que eles querem. Na verdade, não sei mesmo porque acabei de falar isso, pois é bem óbvio. Desculpa, vou parar de enrolar. Vamos dizer que eu fiz seis álbuns, no caso talvez obtive sucesso em cinco deles. A fotografia da capa é a dançante Tina Turner. Eu a tinha descoberto [fotografia] uns anos atrás e pensei na hora que se encaixaria perfeitamente; especialmente depois de mudar o fundo para dourado. Há tanta graça nesta imagem que é um elemento na música do TLSP. É um retrato dinâmico, que reflete nosso trabalho brilhantemente. Como pode notar, é difícil pra mim descrever alguns espectros. Agora mesmo, não sei como explicar o fato de essa capa ser uma uma fotografia incrível. Você começa a sentir as emoções quando você as vê. Bem, você mesmo mencionou isso e tô contente de que percebeu essa coisa maravilhosa. Eu só posso esperar que mais pessoas seguirão seu pensamento e a foto dessa capa irá eventualmente fazê-los ouvi-lo. E sim, talvez as músicas não vão desapontá-los, também.

Quando estou ouvindo suas músicas, me sinto relaxada e calma. Quando me toca, começo a imaginar como aconteceu, se as letras são agressivas ou sexuais. O que você traz pro seu trabalho que vai de um extremo a outro?

Alex Turner: Outra coisa interessante que você notou! É incrível que alguém saiba o que está acontecendo na minha cabeça! Vou te dizer como é. Muitas vezes me pego pensando que se a letra arrasta pra direita e a música pra esquerda, então se fizermos os dois elementos funcionarem, criaremos um balanço. Nenhum dos elementos vai se inclinar demais pro lado, porque vai ser equilibrado pelo lado oposto. Apesar de que não vou generalizar e no caso de “Bad Habits” foi o oposto —tudo foi arrastado para um lado. Quero dizer, há algumas inclinações que criam uma impressão totalmente diferente do que nossa banda é. Nem tudo o tempo todo tem sido preto-e-branco — cinzas em nossa música também são bem vindos. Pessoalmente, preferiria ouvir pelo resto da minha vida o que você comentou: encontrar extremos em minha música. Eu amo a sensação de ligar uma música e quando penso que sei aonde ela está indo, seu criador mostra como ela brinca comigo e que na realidade não sei de nada. Não gosto de músicas previsíveis.

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Falando de suas letras, não consigo resistir de perguntar. Alex, tem muito poucos compositores melhores que você. As pessoas descrevem seu estilo como poético ainda que simples. Pessoalmente, eu concordaria com isso. Mas, como você descreve seu estilo de escrita?

Alex Turner: Você faz perguntas que requerem pensar! Talvez… Não, não é isso. Ou talvez… Isso também não…

Miles, talvez poderia ajudá-lo?

Miles Kane: Pra mim é fácil. As letras do Alex são como uma tentativa de atravessar o Rio Nilo numa balsa. Isso é o quão surreal elas são para mim.

[Risos] Acho que essa é a melhor comparação.

Alex Turner: [Risos] Miles tem talento.

Miles Kane: Não precisa agradecer!

Alex Turner: E eu ainda não sei como responder. Miles lidou bem, e acho que você [Miles] poderia me descrever melhor que eu mesmo.

Vou deixar das descrições, mas vou te perguntar sobre o sonoridade geral do álbum. Você presta bastante atenção para o lado técnico de produzir música? Esse álbum não parece moderno, é mais como…

Alex Turner: Algo do futuro?

Eu ia dizer algo como de algumas décadas atrás, mas sua perspectiva diferente parece muito interessante.

Alex Turner: [Risadas] Fechamos um acordo então! Mas essa é uma situação realmente fascinante! Estávamos muito animados que no primeiro disco fizemos tudo do jeito do estilo antigo. Desta vez, não fomos tão cabeça-duras em fazer algo tão retrô. Não descartamos isso completamente, mas só não era tão importante. Tem alguns sons antigos neste disco, mas se você ouvi-los na rádio, você irá notar que eles soam modernos. Mas eu entendi sua questão. Então se lembre que nós ainda ficamos animados sobre amplificadores antigos e tal [risos].

Eu sei que você faz músicas novas o tempo todo, então tem alguns planos para um novo álbum?

Alex Turner: Ah sim. Com certeza! É tipo a nossa… resolução. Resolução de fazer um novo álbum. Agora nós estamos considerando várias opções, pensamos muito sobre a direção que devemos ir. Estou trabalhando num cenário melódico. Sim, sim, sim. Não vamos escapar tão facilmente.

 

Data da entrevista: 30/06/2016

Fonte: Muzyca (Entrevista originalmente em polonês)  /  Pure Scam (instagram) [Tradução do polonês para inglês]

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