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ARTIGO: As sessões de AM (processo da produção)

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Se você sempre se perde na Cidade de Nova York, Matt Helders é o cara que você quer ter a seu lado. O baterista do Arctic Monkeys — o grupo britânico de post-punk/indie-rock prolífico, quebrador de recordes e premiado — não mora em Manhattan. No entanto, ele tem estado lá vezes o bastante para poder orientar seu motorista: “Se aquela for a Avenida A, e esta é a B, então aquela próxima será a C.” Helders está na cidade promovendo pacientemente AM, o quinto álbum dos Arctic Monkeys, com o entendimento da mudança da direção musical da banda e do processo de composição; e tais práticas de gravação vão exigir explicação.

Essas mudanças podem ser traçadas do passado até o presente de aniversário dado a Alex Turner, vocalista/guitarrista do Arctic Monkeys: um gravador cassete de quatro-faixas. Quando as ideias para AM começaram a funcionar, os Arctic, que eram todos moradores de Los Angeles, montaram acampamento na cidade do Sage & Sound Recording Studios — não tanto para gravar, mas mais como um espaço de ensaio. Por seis semanas, os quatro — contando com o guitarrista Jamie Cook e o baixista Nick O’Malley— iam ao estúdio diariamente. Aqui, experimentaram pequenas partes de sons, trabalhando a harmonia de ritmo, criando loops (repetições), e gravando isso tudo no presente de aniversário.

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“Nós nunca fomos uma banda dessas coisas de jams¹,” diz Helders. “Isso é chato e depois parece estúpido, se pensar. Normalmente tem bem pouco da estrutura de como trabalhamos. Desta vez, por causa da sala de ensaio ser um estúdio de gravação, pensamos em nós mesmos gravar. Você pode ouvir de volta imediatamente e cortar vários tempos da gravação; ouvir e decidir, se está bom pra manter ou não. Por causa de o quatro-faixas ter essa merda de qualidade eletrônica, a fita tinha um som “quente” bem bacana se comparado a qualquer outra coisa digital.”

Microfone Coles 4038 Ribbon

Microfone Coles 4038 Ribbon

Quando veio o momento de gravar o AM do modo formal, os Arctic modificaram a sala na qual estavam trabalhando na Sage & Sound, trouxeram um quinto membro informal ao grupo — James Ford — para produzir (ele também produziu Favourite Worst Nightmare, Humbug, Suck It And See) lado a lado com Add N To (álbum X) /Fat Truckers de Ross Orton (álbum M.I.A.), e trocou a mentalidade das quatro-faixas pelas técnicas de gravação über-modernas.

Alguns dos momentos capturados no quatro-faixas foram preservados, enquanto outros recriados. Um sem número de ideias que permaneceram não foram concretizadas ou ‘demoizadas’ [elaborar demos] adequadamente, então Ford construiu uma versão no seu laptop usando Ableton Live (programa). Desta forma, eles podiam manipular a chave, sentido ou a estrutura da demo, que então foi usada como uma referência para a apresentação da banda.

“Nós sempre temos buscado um grande som ao vivo,” diz Helders. “Queríamos que as pessoas soubessem que nós nos sentamos ali e tocamos, do começo ao fim. Só íamos gravar algo se pudéssemos tocá-lo depois. Se não podemos fazê-lo ao vivo, por que pô-lo num disco? Agora que estamos ficando mais confortáveis e melhores em ser uma banda de estúdio, estamos tranquilos com isso. Pensamos que isso é o mais importante para fazer um bom disco, do que nos prender à ideia de que devíamos ser capazes de tocá-lo ao vivo.”

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Gravador Cassete 4 faixas. Provavelmente Alex ganhou um semelhante a este.

Em vez de todos os membros tocarem ao mesmo tempo e registrarem o desempenho — que foi sua abordagem no último álbum ‘Suck it And See’— o foco estava em aperfeiçoar individualmente as faixas para o AM. Por exemplo, o kit de bateria de Helders pode ter sido configurado de forma não convencional e tocado separadamente para colher um som melhor, com overdubs² no baixo, ou refeitas no bumbo ou nas camadas de sons.

“Para algumas músicas, como ‘Fireside’, pra ‘levada’³ eu fiz uma batida direta de golpe no bumbo, mas depois eu ‘overdubbei’ um padrão tribal na batida da bateria, tocando com as baquetas, foi um kit de percussão estranho, que eu nunca tinha feito antes,” diz Helders. “Em outras músicas, eu tocaria golpes no bumbo para uma tomada, depois acrescentava a caixa [de bateria] pra tentar conseguir um som isolado. Considerei interessante o desafio de tocar efeitos no kit de bateria. Quando comecei pela primeira vez a tocar bateria, eu não entendia o apelo de tentar soar como uma máquina, como em ‘Questlove’ dos The Roots, mas eu entendo um pouquinho mais agora.”

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Amplificador Ampeg Portaflex (antigo)

“Tivemos uma seleção muito boa de diferentes baterias: caixas de bateria mais profundas ou chimbais [pratos de bateria] menores, que trocaríamos para cada faixa,” diz Ford [produtor]. “A maior parte do tempo, bateria e baixos foram gravados juntos para ter uma sensação boa de sessão-ritmo, com talvez um guia vocal. O baixo foi gravado principalmente através de um amplificador vintage Ampeg Portaflex. As guitarras foram gravadas uma a uma por [Cook] e [Turner] na sala de controle com seus amplificadores Selmer Truvoice e Magnatone — além de um pedal-steel(4) pequeno, que Turner trouxe durante a sessão, a qual nós apelidamos de ‘The New Black’— na sala-de-estar.

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Amplificador Selmer Truvoice.

Vocais, vocais de apoio, percussão e teclado de overdubs se seguiram. Indo para um estilo de vocal mais suave e
R&B com ecos de atrasos ao invés de seu padrão distorcido — o estilo de se sobrepôr ao microfone — a atitude dos Arctic dirigida à essa abordagem iniciou como piadas que terminam num produto pronto.

“Você tem que ser Mariah Carey por um minuto, com um fone de ouvido e com seu dedo conectado no ouvido,” diz Helders. “Nós não somos vocalistas treinados de qualquer forma, então pra conquistarmos o que queríamos, gastamos bastante tempo com Pro Tools [programa], fazendo comping(5) mais do que sempre fizemos, buscando as palavras perfeitas, fatiando um som em específico por termos feito um melhor. Estávamos sob o microscópio com os trechos de cada um. Você pode não entendê-lo muito bem, tem de conseguir deixá-lo coerente, o que é outro desafio. É uma produção mais detalhada, a qual foi algo que nós nunca antes nos preocupamos em fazer, como que este seria lustroso demais ou reluzente. É algo que teríamos achado realmente brega se o tivéssemos feito quando fizemos nosso primeiro disco.” Por tudo isso, a captação de voz é padrão — mais frequente ou não, um Neumann U67 [microfone] por meio duma Neve ou pré amplificador de microfone BAE, e um Universal Audio 1176 ou Empirical Labs Distressor para o controle.”  

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Amplificador Magnatone

“Definitivamente havia mais camadas vocais que o normal, com as partes importantes gravadas nas oitavas,” diz Ford. “[Turner] tomaria a liderança e geralmente duplicaria sua voz de oitavo em falsete. [Helders] também gravaria sua oitava e faria algum vocal de apoio alto e [O’Malley] geralmente gravaria a oitava em seu ótimo e rico barítono [voz masculina intermediária].”

Este tipo de detalhe está por todo o AM. Eles até mesmo atacaram em batidas eletrônicas e sintetizadores, onde precisaram, uma prática inédita para os Arctic Monkeys. “I Want To Be Yours”, que tem sua letra de um poema de James Cooper-Clarke, cuja fagulhou a imaginação de Turner quando estava no colégio, dispõem duma caixa de ritmos antiga; a canção também foi de um rock rápido a um improviso após a sessão de pré-produção com Ford. “Do I Wanna Know” teve Helders desencadeando um sample(6) de uma bateria digital [drum pad] quando a banda apresenta a música ao vivo. Essa música também mudou drasticamente com a entrada de Ford, com um refrão completamente novo esboçado em seu laptop. “Mad Sounds”, por outro lado, manteve algumas das gravações quatro-faixas originais.

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Microfone Neumann U67

Nenhum objeto está a salvo de uso no AM. Quando um EBow não era mais útil, os Arctics pegaram uma pequena ventoinha de plástico do Pato Donald, ligaram, e friccionaram na ponta de suas cordas de guitarras. A vibração chegou bem próxima a do Ebow que queriam. Tais instâncias podem ser identificadas cada vez que a guitarra soa como se pudesse ser um teclado. Destaque fervoroso também para as palmas. Helders atalha, “Palmas no joelho soa como duas pessoas batendo palmas. É quase como ter um monte de pessoas a aplaudir fora de tempo em relação aos outros, então soa como uma batida forte.”

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Empirical Labs Distressor

“Nos focamos muito na percursão, nas palmas, pandeiros e estrutura de bateria estranhamente “microfonada””, diz Ford. “A percussão foi no geral gravada com um microfone Coles 4038 Ribbon, mas com frequência havia um microfone velho na sala passando de um cassete quatro-faixas à um Roland Space Echo e desse à um amplificador, ou mesmo para pedais de guitarra. Às vezes uma simples batida foi feita com uma estrutura de bateria e overdubada com um arranjo no meio da sala, como [Helders] tocando um bumbo com as baquetas e um tarol militar antigo. ‘Knee Socks’ é um exemplo disto. O’Malley dobrou sua bassline(7) com uma guitarra Baritone.”

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Amplificador de mic BAE

Ele continua, “Fomos a um ótimo estúdio chamado Vox pra fazer os teclados de overdubs. Eles tinham um monte de coisas interessantes para tocar como um Orchestron — um pouco como um Mellotron, que toca os sons de uma gravação— e um celesta de ótimo som. Nós também usamos um guitaret [iamelofone elétrico] Hohner— um pouco como uma kalimba e bem difícil de tocar—para apoiar algumas das notas de guitarra. A bateria elétrica também era deste estúdio: Thomas Bandmaster e Selmer através da Fairchild Spring Reverb [aparelho de reverberação de som]. “Temos dois produtores eletrônicos para fazer um disco de rock,” diz Helders. “Se dissermos às pessoas: Temos feito um álbun que tem vocais de apoio emprestados do R&B e batidas hip-hop da Costa Oeste, mas somos uma banda de rock, isso soa como se pudesse ser terrível. Ninguém quer um disco de rap-rock. Nós temos de ser cuidadosos com isso, escolher as partes escritas, pegar Ford e Orton, colocar os dois juntos e encontrar o equilíbrio certo dos diferentes estilos de música.”

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Amplificador Universal Audio 1176

 

 

 

 

 

 

Guitaret Hohner

Guitaret Hohner

Notas

1 Jams: Reuniões casuais de artistas, famigerado pelo improviso. (brasileirismo: roda de música)
2 Overdubs: Quando trechos de instrumentos ou voz são gravados sobre uma faixa já existente, como uma acréscimo, polir o som ou concertar possíveis problemas.
3 Levada: No seguimento bateria significa um som “de fundo” que ilustra um som possível. Uma batida inicial que vai culminar num outro. Como um esboço.
4 Pedal Steel Guitar: Uma guitarra elétrica montada sobre uma bancada. Para conveniência, encurta-se para pedal-steel.
5 Comping: Processo de combinar os melhores segmentos de diversas tomadas (takes) de um desempenho em uma utilizável.
6 Sample: Trecho de uma canção de outrém utilizada numa outra música.
7 Bassline: Gênero de música eletrônica de origem britânica, porém nos dias atuais usa-se para definir o uso maior ou valorização das linhas baixas do baixo.

Data: 01/04/2014

Nota do tradutor

Alguns dos termos não possuem nossa própria definição para o português restrita numa única palavra, portanto as mantive. Outras, foram ligeiramente abrasileiradas uma vez o sentido compreendido.

Fonte: Emusician

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