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ENTREVISTA: Alex fala sobre David Bowie, Tina Turner e The Last Shadow Puppets

Alex Turner, o super astro indie, explica a Olaf Tyransen por que ele se sentiu compelido a retornar com com seu projeto paralelo de mega sucesso com Miles Miles.

Shortlist Magazine 05
“Ei, ‘Oh-Laugh’… você ainda ‘tá aí, cara?”
“Sim, amigão. Tô aqui. To te ouvindo”
“Ok. Desculpa… Eu só preciso de uma constante reafirmação. Ha,ha! Sabe o que quero dizer, né?”
Alex Turner está falando pelo telefone com o Hot Press de sua casa em LA, mas tem um eco estranho de atraso na ligação. Acoplado com sua lentidão e a voz arrastada de um Yorkshire da idade da pedra, o líder dos Arctic Monkeys muitas vezes parecia como se pudesse me chamar do espaço sideral.
Nos encontramos cara-a-cara em algumas ocasiões e em muitos momentos ele não é o entrevistado ideal. Este que lhes escreve também ficou desconcertado com esta ‘estrada telefônica’ com Turner antes (por que ele só me liga quando está chapado?), então perseveremos e lhes pouparei leitores de suas pausas inconfortáveis, silêncios e non sequitur (que não se segue).

Portanto, enfim… falando de espaço sideral, ele estava me dizendo que estava ouvindo ‘Starman’, de David Bowie, na noite passada.
“Sim, bem na noite passada eu ouvi essa música na rádio e meio que fiquei sentado no banco do carro sem reação,” recorda. “Acho que isso diz tudo, de verdade, quando músicas vêm da rádio e você está dirigindo indo a seu destino e você tá sentado lá e, tipo, deixa a música tocar alto. Você não faz isso pra todas, mas você o faz pra um monte de músicas do Bowie.”
Turner se encontrou com Bowie apenas uma vez. Foi há uma década completa, quando os ‘então novatos’ Arctic Monkeys tocaram seus primeiríssimos – e massivamente hypados – shows na América.
“Foi a primeira vez que tocamos em New York, no Bowery Ballroom, e David Bowie foi ao show. Eu realmente não sabia o que dizer a ele, pra ser honesto. Sou muito mais fã de seu trabalho agora do que antes, mas mesmo assim… Ouvi pessoas falar sobre ficarem chocados, e acho que estava nalgum lugar disto com Bowie, com certeza.”
Naquela época, Turner estava a recém enfrentando seus 20 anos. “Nenhum de nós sabia o que fazer a respeito de ele estar ali,” ele ri. “ Era uma situação ‘alien’ pra nós. E não sei se o teria encontrado outra vez se tivesse sido diferente, pra ser honesto. Talvez ainda mais!”
Originalmente de Sheffield, Turner agora se instalou em LA por uma série de anos. “Aqui é realmente muito bom,” ele diz. “Já faz alguns anos, mas estive fora em turnê em vários momentos. Comecei a fazer várias amizades aqui por volta da época que fizemos o terceiro álbum dos Arctic Monkeys [Humbug]. E depois nós começamos a pegar um pouco mais o jeito, sabe o que quero dizer?”

Ele estaria planejando em ficar aqui?

“Se tem algum lugar que eu ficaria pra sempre? Não sei, mas ficarei aqui pelas… próximas semanas. Ha, ha!”

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Turner não está vestindo seu “chapéu” de Arctic Monkeys hoje. Pudera, com a banda num breve hiato, ele está promovendo o recém lançado álbum segundanista de seu projeto paralelo, The Last Shadow Puppets.
“Com os Monkeys, não há nada de mais acontecendo no momento… Matthew [Helders], o baterista, neste momento está em tour com Iggy Pop, é algo importante. Acho que nós vamos nos juntar muito em breve e começar a trabalhar, mas não há nada de concreto. Tipo, não posso te dar alguma data por enquanto.”

Não se preocupe, nos deu a possibilidade de sobra que isso vai dar certo. O sucessor do The Age of the Understatement de 2008, o acalorado Everything You’ve Come To Expect, encontra Turner e seu bom amigo Miles Kane reunidos com James Ford (produção e percussão), Owen Pallett (arranjos de cordas) e o baixista Zachary Dawes do Mini Mansions.
Passaram-se oito anos desde seu debut (que foi direto ao nº1 no UK), então quando ocorreu a ideia de reativar o The Last Shadow Puppets?

“Provavelmente por volta de dois anos atrás,” Turner responde. “Naquela época, sentíamos que estávamos escrevendo o álbum solo de Miles, e quase um ano depois se transformou em Shadow Puppets. Provavelmente tínhamos posto isso de lado em nossa cabeça. Sempre que éramos questionados — o que era frequente— diríamos que gostaríamos de fazer outra vez, mas as chances de acontecer de verdade pareciam estar ficando menores.”

Não foi até que eles colaborassem numa nova música que o par percebeu que provavelmente tinham coisas a fazer juntos.

“O desejo criativo veio quando estávamos trabalhando juntos nesta música, que supostamente ia estar no álbum solo dele, chamada ‘Aviation’,” recorda Turner. “Experimentamos uma parte de harmonia vocal quase no fim da faixa. Pareceu lembrar — a nós dois, sem dúvidas!— do último álbum, além de também ser promissor; naquilo sugeria que havia uma direção para ele também. Aquele som tinha um clima similar à algumas coisas do primeiro álbum — estava apontando numa direção interessante.”

Gravado no Shangri La Studio, de Rick Rubin, em Malibu, Everything You’ve Come To Expect é um trabalho muito mais aberto e expansivo que seu predecessor. Se o debut do TLPS veste-se orgulhosamente suas mangas das influências a Scott Walker, John Barry e Ennio Morricone, este é obviamente mais enamorado a nomes como de Paul Weller, Ned Doheney e Todd Rundgren.

“Acho que podemos chamá-lo de ‘projeto’ agora que fizemos um grande total de dois discos,” Turner ri. “É alguma coisa agora. Em ambas ocasiões, isto me proveu de uma chance de experimentar. O primeiro álbum realmente abriu minha cabeça para todos os tipos diferentes de abordagens. O estúdio podia ser um lugar onde eu estava confortável, e até aquele momento que não o via assim. Me ensinou a tentar cantar de diferente formas também. Chegando a considerar estar cantando de verdade pela primeira vez…”
“Portanto, o primeiro disco serviu como um respingo de água no rosto,” prossegue. “Criou o que passei a fazer depois com os Arctic Monkeys, e desta vez com todas essas coisas e um pouco mais. E isso não é bem o que eu aconselharia a alguém fazer a menos que ouça seu coração. Aquele momento que você reconhece que é uma outra coisa. Vem com uma certa liberdade. E também trabalhar com Miles Kane; isso veio muito mais do meu coração. ‘Cê sabe, com uma amizade tão próxima que temos. Querer trabalhar junto trouxe algo a mais. Eu não tenho feito muito disso com outras pessoas… ele é tipo o único.”

Dado que ele é o porta-chaves de Shangri La, Rick Rubin estava por perto durante a gravação deste álbum?

“Não, Rick Rubin não estava por lá — apenas James Ford. Nós só usamos seu estúdio. Se você entrar numa enrascada em Shangri La, tem um número de emergência que você pode ligar e algo do teto desce. Mas felizmente, não tivemos que fazer isso. Foi tudo um mar de rosas com James.”

Eles têm saído em tour do álbum pelos últimos meses.

“Fazer a tour do Shadow Puppets tem sido uma zoeira, na verdade,” Turner se entusiasma. “Acabamos de chegar ao fim da primeira corrida e foi muito bom. Na banda são todos instrumentistas espetaculares e pessoas incríveis pra se ter ao redor, então sim, tem sido maravilhoso. Tivemos um show maravilhoso na Cidade do México semana passada. Vários desses lugares nós nunca estivemos como Shadow Puppets. Tipo, da última vez, fizemos apenas entre 15 shows ou algo assim — a maioria na Europa — então foi muito breve. Desta vez, tivemos de ir à alguns países que nunca fomos antes. Acabamos de voltar do Japão outro dia, que foi espetacular. Com o show mexicano, acho que seríamos muito sortudos se tivéssemos uma recepção como aquela em todo lugar nesta tour, foi realmente especial. Portanto, sim, cara, não tenho nenhuma reclamação no momento.”

A capa de Everything You’ve Come To Expect exibe uma foto antiga de uma dançante Tina Turner. Obviamente ela não tem relação, mas qual foi o pensamento por trás disso?

“Bem, essa é uma fotografia que eu tinha uma cópia a alguns anos,” explica Turner. “Eu a tinha em minha parede por um tempo, e sempre foi algo em que estive pensando —se tivesse um segundo álbum do Shadow Puppets seria uma ótima capa pra ele. Foi quase como se fosse a primeira parte de um quebra-cabeça que nós tínhamos, de certa forma. Evocou algo em mim. Aquela foto capturava o que eu gostaria que a música evocasse nos ouvintes, se quer saber. Isso é tudo que sempre tento fazer com uma capa de disco. Nesta ocasião, foi um acerto muito bom.”

A ligação telefônica parece estar piorando e Turner começa a soar um tanto desconexo.

“Acho que o fato de que é Tina Turner… Tipo, eu realmente não esperava aquelas pessoas descobrindo, mas… pois você realmente não pode falar… a menos que você seja familiarizado com suas coxas… Alô? Você ‘tá aí?”
“Sim, ainda to ouvindo…”
“É… que foi uma parada completa depois de COXAS, Oh-Laugh!”
“Oh…”
“Sim. Disse que só reconheceria se fosse bem familiarizado com as coxas dela. Ha, ha! Há umas mais familiares dela… um… tronco… em todo caso, prossiga.”

Provavelmente, é melhor ir. Mas antes que eu desligasse, perguntei a Alex Turner se há algum plano para um terceiro álbum dos The Last Shadow Puppets?

“Uhm… sim,” ele responde, depois de um longo e doloroso silêncio. “Seria legal, mas talvez nós o façamos uns 15 anos depois… como n’O Poderoso Chefão III. É meio que um pouco…desnecessário. Haha! Não sei. Certamente tem um começo para algo assim, mas não vai ter por um longo, longo tempo, cara.”

Data da matéria: 08/06/2016

Fonte: Hot Press

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