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ENTREVISTA: Chris McClure conta como foi o dia da sessão de fotos do Whatever

Entrevista concedida ao site The Guardian.

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Eu conheci os Arctic Monkeys no último ônibus pra casa. Tínhamos 16 anos. A gente ia aos mesmos shows em Sheffield, então nos víamos nas bebedeiras — logo nos tornamos amigos. Quando eles saíram em sua primeira turnê, eu era seu técnico de guitarra: eu não poderia tocar guitarra pra salvar minha vida, mas acho que eles queriam alguém que fosse parte da gangue.
Eu estava estudando sociologia na Manchester Metropolitan University quando recebi uma ligação de Andy Nicholson, o baixista. Eles estavam trabalhando em seu álbum de estreia, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, e queriam imagens de um cara numa noitada para a artwork. Não houve sugestão de que isso era para a capa. Andy me perguntou se eu o faria, e eu disse ‘Por que não? Só não sei porquê eu’. Eu nunca perguntei. Acho que eles só queriam alguém normal.
Fui a Liverpool com um grupo de camaradas. A banda não estava lá; eles estavam em tour. Conhecemos o fotógrafo e os assistentes num bar às 2 da tarde. Eu disse: “O que você quer que a gente faça?” Eles disseram: “Saia e fique bêbado — volte depois da meia-noite.” Eles nos deram um chumaço de grana, literalmente centenas de libras. Nós éramos jovens e fizemos o melhor que pudemos. Quando voltei, já tinha passado das duas. Havia um lugar abaixo do bar e nós fizemos as fotos ali, apenas eu sentado num banquinho. Eles me deram mais uísque e vomitei na metade do caminho. Estava tudo embaçado.


A banda amou o resultado. Quando os vi três semanas depois, já tinham decidido usar uma das fotos na capa. Eu fiquei satisfeito mas eu não acho que eu percebera quão massiva ela iria ser. Foi só no dia do lançamento do álbum, em janeiro de 2006, que pensei: “Merda, por quê me deixei envolver nisso?”
Naquela segunda, meu telefone nunca parava. Eram doidos; como ser mergulhado na fama. Todos no mundo queriam saber quem eu era. Eu trabalhava meio período num pub e recebi uma ligação de um proprietário que disse haver 15 repórteres lá procurando por mim; outros cinco estavam do lado de fora da casa de minha mãe. O canal de tv E4 me pediu para apresentar slots. O Daily Star me ofereceu 10,000 libras para deixar um fotógrafo me seguir numa noitada. Eles disseram que trariam junto um grupo de modelos. Quando você tem 19 anos, não é fácil recusar, mas eu não queria decepcionar a banda. Eu me recusei a tudo, inclusive das entrevistas com Soccer AM e BBC News.
Isso fez a vida estudantil surreal. Ia à casa de festas e meu rosto estaria nos quartos. Estranhos me pediriam para fazer a pose do cigarro. Clubes me ligariam e ofereceriam drinques grátis a noite toda se eu apenas fosse lá. Acho que aquela capa é a razão de eu só ter um grau de 2:2¹.
O melhor foi quando fui ver Noel Gallagher no The Lowry. Eu costumava trabalhar lá, então fui pra trás dos palcos. Noel deu uma olhada dupla e disse: “Eu tenho você pendurado na minha casa!” Eu disse: “Eu tenho você na minha!”
Nem tudo foi bom. Estava uma vez em um show e este cara ficou colocando seu cigarro na minha cara. E algumas pessoas disseram que nós estávamos promovendo o ato de fumar, mas não me preocupei com isso.
No dias de hoje, eu trabalho com adultos com dificuldades de aprendizado e as pessoas me reconhecem menos. Chegam a mim desconhecidos dizendo que me conhecem de algum lugar, mas eu desconsidero. Não digo às pessoas. Eu sou uma pessoa criativa — estive em bandas e estou escrevendo um sitcom — e eu não quero ser lembrado apenas como o cara numa capa de álbum. Eu ainda vejo a banda. Alex e eu fomos ao futebol recentemente.
Se eu faria de novo? Com certeza. A única coisa que eu posso mudar é o dinheiro. Fui pago 750 libras por aquela noite. Eu devia ter pedido por 10p [pences] por cada álbum vendido.

Entrevista: Colin Drury. Data: 22/04/2016

Nota:
1 Degree 2:2. Grau de Classificação em faculdades do Reino Unido e outros países. 2:2 é considerado Segunda Classe Honorária, Divisão Mais Baixa.

Fonte: The Guardian 

 

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